Vaca Muerta: crescimento acelerado em Añelo expõe desafios de infraestrutura, moradia, saúde e meio ambiente
Vaca Muerta mudou Añelo em poucos anos, trazendo riqueza e tensão: surgem empregos bem pagos e, ao mesmo tempo, estradas destruídas, escolas sobrecarregadas e uma cidade que tenta acompanhar o ritmo do fracking.
O que aconteceu
Em julho de 2013, as empresas petrolíferas YPF e Chevron assinaram um acordo para explorar petróleo e gás em Vaca Muerta, a extensa formação não convencional no norte da Patagônia. A técnica usada — o fraturamento hidráulico, ou fracking — permitiu aumentar produção e, em pouco tempo, mudar a economia local.
O impacto é visível: “Hoje, em Añelo, temos cerca de 12 mil habitantes permanentes”, diz o prefeito Fernando Banderet, e a esse núcleo somam-se cerca de 15 mil trabalhadores da indústria que circulam pela cidade. O país, por sua vez, obteve um superávit energético de cerca de US$ 6 bilhões (cerca de R$ 32,4 bilhões), segundo a cobertura local.
Infraestrutura e vida cotidiana
O fluxo de veículos mudou a cara das vias: 24.956 veículos ingressaram diariamente em Añelo. Destes, 6,4 mil eram caminhões, segundo levantamento citado pela reportagem. Estradas rurais não projetadas para esse tráfego passaram a rachar, e um trecho da rodovia 7 teve um número incomum de mortes — 10 mortos em seis meses — reacendendo o debate sobre quem deve arcar com obras: o Estado ou as empresas.
No planalto, onde nasceu a nova face urbana, surgiram condomínios, hotéis e alojamentos desenhados para o mercado petrolífero. Aluguéis para unidades voltadas a trabalhadores custam cerca de 2,8 milhões de pesos, contra pouco mais de 1 milhão na capital provincial, Neuquén — um sinal claro da pressão por moradia e dos ganhos concentrados.
Serviços públicos sob pressão
Escolas e saúde sentem o crescimento abrupto. A escola CPEM 39 quase dobrou matrícula, de cerca de 260–270 alunos para mais de 500, obrigando o uso de contêineres como salas. O diretor José Luis Cabrera relata chegada de 10 a 12 alunos novos por mês, muitos de famílias que depois são transferidas pela indústria.
O hospital público tem 10 clínicos gerais e enfrenta dificuldade em atrair especialistas: “Trazer profissionais formados é o mais difícil”, diz o diretor Nicolás Ochoa — a oferta de serviços médicos e a qualidade de vida para famílias ainda pesam na decisão de fixar profissionais na cidade.
Economia local e desigualdade
Ao mesmo tempo em que o setor gera altos salários — entre 3 milhões e até 10–12 milhões de pesos para trabalhadores diretos —, servidores públicos e profissionais locais recebem muito menos. O prefeito lembra a necessidade de moradias sociais com planos de pagamento a longo prazo para evitar expulsão dos que não trabalham na indústria.
Empreendedores locais também colhem oportunidades: lavanderias, serralherias, trailers de comida e serviços de limpeza viraram negócios essenciais. Ainda assim, o aumento do custo de vida e a falta de mão de obra especializada geram tensão social.
Meio ambiente e futuro
Além das questões sociais, o fracking levanta preocupações ambientais: consumo intensivo de água, transporte de areia por milhares de quilômetros, contaminação e um aumento de atividade sísmica registrado após fraturas hidráulicas. A escola tem se esforçado para informar alunos sobre essas consequências, segundo Cabrera.
Para a Argentina, Vaca Muerta já solucionou um problema antigo — o déficit energético — e virou foco de projeto de exportação que pode trazer divisas. Mas a pergunta pendente é se os ganhos macroeconômicos serão acompanhados por planejamento urbano, investimento em serviços públicos e controles ambientais.
“A riqueza gerada na nossa localidade causa fortes impactos à natureza”, resume o diretor Cabrera sobre o dilema local: prosperidade imediata versus sustentabilidade de longo prazo.
Há também desafios humanos: a migração interna e externa transformou a composição social de Añelo, com famílias que chegam e são frequentemente deslocadas pela própria dinâmica do trabalho, afetando continuidade escolar e vínculos comunitários.
Uma perspectiva de fé e responsabilidade: como cristãos, é possível ver aqui um chamado à administração responsável da criação. Gênesis 2:15 diz que o homem foi colocado no para cuidar do jardim — uma lembrança singela de que desenvolvimento e cuidado ambiental podem e devem caminhar juntos, respeitando pessoas e recursos.
Vaca Muerta é hoje uma encruzilhada para a Argentina: oferece emprego e dólares, mas exige decisões difíceis sobre quem paga por estradas, saúde, moradia e recuperação ambiental. Para Añelo, o desafio é transformar o boom em base para uma cidade saudável e duradoura — e não apenas um acampamento de passagem.
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