TikTok retira #casadaaos14 das buscas após reportagem do g1, mas especialistas apontam moderação limitada
O que aconteceu
Uma reportagem do g1 que mostrou vídeos de meninas que se apresentavam como casadas aos 13, 14 e 15 anos motivou uma reação do TikTok: a plataforma passou a bloquear as hashtags #casadaaos13, #casadaaos14 e #casadaaos15 nas buscas e removeu parte dos vídeos e perfis relacionados.
Antes da publicação, as buscas por essas hashtags retornavam 32, 213 e 582 vídeos, respectivamente; hoje a pesquisa exibe a mensagem “Não foi possível localizar esta hashtag”. O TikTok afirmou que o material violava diretrizes ao promover situações consideradas abusivas ou que poderiam expor jovens a riscos.
Dados e exemplos
O levantamento feito pelo g1 identificou que, entre 56 vídeos assistidos a partir das buscas, 35 já não estavam disponíveis depois da ação da plataforma. Algumas contas e publicações foram apagadas; outras permaneceram, mas sem as legendas ou hashtags originais.
Um perfil dedicado a rotinas domésticas de uma adolescente que se dizia casada, com mais de 190 mil seguidores, segue ativo, mas vídeos que explicitavam a alegada união foram removidos. Variações como #casadaaos14anos ainda exibem publicações — a variação citada tinha 41 publicações no momento da apuração — e outras hashtags com idades menores, como #casadaaos11 e #casadaaos12, permanecem buscáveis.
O que dizem especialistas
Para especialistas que acompanham direitos da criança e moderação de conteúdo, a medida é positiva, mas insuficiente. Raquel Saraiva, presidente do Instituto de Pesquisa em Direito e Tecnologia do Recife (IP.rec), avaliou: “A medida é importante, mas continua sendo uma medida falha, pois faltou um pouco de proatividade da empresa de também remover as variações dessa hashtag”.
Manu Halfeld, analista de Relações Governamentais do Instituto Alana, descreveu a ação como “uma desindexação da hashtag”: a retirada do resultado da busca não equivale à remoção completa do conteúdo. Segundo ela, ainda é necessário entender se houve medidas complementares, como redução preventiva de alcance ou remoção em massa.
Mariana Zan, do Instituto Alana, reforça a gravidade do fenômeno: “É a romantização do casamento infantil”, afirmou, ao alertar que esses posts naturalizam e tornam aceitável uma prática que é, do ponto de vista dos direitos humanos, uma violação.
Contexto jurídico e operacional
Na legislação brasileira, casar antes dos 16 anos é proibido, mesmo com consentimento dos pais. A presença de conteúdos que retratam ou promovem uniões envolvendo crianças e adolescentes acende um alerta sobre falhas de moderação e a necessidade de atuação conjunta entre plataformas, sociedade civil e autoridades.
Especialistas destacam que sistemas automáticos conseguem identificar conteúdos explícitos, como nudez, mas têm dificuldade em captar nuances culturais e narrativas que normalizam práticas danosas. Há também o desafio técnico e humano: quando uma hashtag é bloqueada, usuários podem criar variações para burlar filtros, como trocar letras por números ou omitir termos.
Análise e próximos passos
A reação do TikTok mostra que denúncias públicas e investigações jornalísticas podem provocar ações rápidas das plataformas, mas também evidenciam limites desse tipo de resposta. Agir apenas sobre termos de busca deixa espaço para que conteúdos continuem circulando por outras vias.
Especialistas defendem medidas complementares: maior transparência sobre critérios e volumes de remoção, ampliação de equipes com conhecimento contextual das violações de direitos e parcerias com organizações que atuam na proteção de crianças e adolescentes para identificar riscos emergentes.
O TikTok informou que bloqueios nas buscas, remoção de vídeos e desativação de contas fazem parte das medidas adotadas e que avaliará internamente por que outras variações não foram retiradas. A empresa não detalhou o número total de publicações derrubadas.
No plano prático, a combinação entre fiscalização, educação digital e ações mais proativas das plataformas é essencial para reduzir a exposição de menores a narrativas que os colocam em risco. Enquanto isso não ocorre de forma coordenada, parte do conteúdo continuará acessível.
Breve conexão cristã: como comunidade, somos chamados a proteger os mais vulneráveis; em passagens como Mateus 19:14, há um chamado simples e direto à acolhida e cuidado das crianças.
Em resumo, a retirada das hashtags citadas representa um avanço reativo, mas não resolve por completo o problema. A moderação precisa ser mais abrangente, transparente e contextualizada para evitar que a romantização do casamento infantil siga sendo disseminada em plataformas digitais.

