Sóstenes reforça Alcolumbre e critica estratégia do governo sobre a indicação de Messias; sabatina segue marcada para 10 de dezembro
O apoio público do líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), à nota do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, acirra a tensão institucional entre Congresso e Planalto sobre a indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal.
O que aconteceu
No domingo (30), Alcolumbre divulgou nota criticando a estratégia do governo federal de atrasar o envio da mensagem de indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, como forma de ganhar prazo até a sabatina. O presidente do Senado também sinalizou que manterá o agendamento para 10 de dezembro.
Sóstenes endossou a nota e foi direto na crítica ao Executivo: “Quando o Senado cobra respeito, é porque o Executivo ultrapassou todos os limites”, afirmou. Ele ainda disse que o governo “quer mandar no Senado, impor cronograma e ainda culpar terceiros por sua própria bagunça interna” e concluiu com um protesto direto: “Basta de governo que humilha, que ignora protocolos e que tenta transformar sua desordem em crise institucional alheia.”
Do lado do Palácio do Planalto, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, respondeu negando intenção de fisiologismo e defendendo a regularidade do processo. Em nota, disse ter o “o mais alto respeito e reconhecimento” por Alcolumbre e negou que o governo tenha tentado “rebaixar a relação institucional com o presidente do Senado a qualquer espécie de fisiologismo ou negociações de cargos e emendas.”
Gleisi também afirmou que “Todos esses processos transcorreram com transparência e lealdade de ambas as partes, respeitadas as prerrogativas do Executivo na indicação dos nomes e do Senado Federal na apreciação dos indicados.”
Contexto político
A sucessão da vaga deixada por Luís Roberto Barroso, que anunciou aposentadoria antecipada em 9 de outubro, gerou uma corrida por nomes desde então. Jorge Messias esteve entre os principais cotados desde o início, mas a escolha do dia 20 de novembro para formalizar a indicação — Dia da Consciência Negra — provocou críticas de movimentos identitários que defendiam a nomeação de uma mulher negra.
No Congresso, havia expectativa sobre o encaminhamento do presidente do Senado: Alcolumbre teria preferido que o presidente da República consultasse ou indicasse outro nome, e havia também a inquietação por parte de senadores sobre prazos e protocolos.
O episódio ganhou outros elementos: o ministro do STF André Mendonça manifestou apoio a Messias, e críticas ao indicado vieram à tona por pareceres anteriores — um dos pontos mais explorados foi um parecer que opinava contra a proibição da técnica abortiva de assistolia fetal.
O próprio Messias agravou a situação ao publicar nota pública se colocando à disposição para a sabatina antes de conversar pessoalmente com Alcolumbre. Em resposta, o presidente do Senado emitiu a nota que desencadeou os desdobramentos atuais e manteve o agendamento para 10 de dezembro, informação que agora ganha respaldo com o endosso de Sóstenes.
Análise
O episódio revela três vetores de tensão: a disputa por formalidades e precedentes institucionais; a pressão política de grupos identitários e setores evangélicos; e a gestão da comunicação e calendário do próprio governo.
Forçar prazos ou tentar controlar o calendário do Senado pode ter custo político e institucional. A estratégia de atrasar o envio da mensagem para ganhar tempo — se comprovada como tática deliberada — alimenta narrativas sobre fragilidade do planejamento do Executivo e enfraquece a confiança entre os Poderes.
Do ponto de vista prático, a manutenção da sabatina em 10 de dezembro deixa pouco tempo para a chamada ronda de gabinetes — o tradicional “beija mão” — exigida pela dinâmica do Senado para construir apoio. Isso pode reduzir margens de negociação e aumentar a chance de desgaste público para o indicado e para o governo.
Politicamente, a posição de Sóstenes, deputado evangélico e líder do PL, mostra que a tensão não é apenas partidária: trata-se de preservar rotinas institucionais. Para o Planalto, o risco é ver críticas internas e externas se somarem a debates já sensíveis sobre representatividade e imagem pública.
Breve conexão cristã
Em meio à contenda, vale uma lembrança breve: “Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens” (Filipenses 4:5). A mensagem ressoa como convite à prudência nas formas e no trato entre instituições.
Em síntese, a cena política brasileira acompanha de perto como o Executivo e o Senado vão gerenciar prazos, protocolos e diálogo institucional nas próximas semanas. A indicação de Messias e a sabatina marcada para 10 de dezembro seguem sendo pontos de tensão que podem influenciar a relação entre os Poderes e o ambiente político até o fim do ano.

