Senador critica indicação de Jorge Messias ao STF por suposta perseguição a adversários e defende neutralidade judicial à luz da fé cristã
Há um conflito claro entre fé, poder e independência do Judiciário: o senador Jorge Seif (PL-SC) afirmou que a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, ao Supremo Tribunal Federal representa a continuidade de um “uso político” da AGU e que, nos últimos três anos, ele teria atuado para perseguir adversários políticos do governo.
O fato
Na quinta-feira (20), o presidente Lula formalizou a indicação de Jorge Messias ao STF, encerrando uma disputa que também incluía o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e o ministro Bruno Dantas, do TCU. Considerado aliado próximo do presidente, Messias recebeu apoio do PT e agora depende da aprovação do Senado.
Para ser aprovado, Jorge Messias terá de passar por sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, na sequência, obter ao menos 41 votos no plenário do Senado.
As acusações de Seif
Em entrevista à Folha de S. Paulo, Seif disse: “A Bíblia ensina que Deus é justiça, imparcialidade e verdade. O que se viu na atuação de Messias foi seletividade, perseguição política e instrumentalização do poder”. O senador também declarou: “Sou contra a indicação de Jorge Messias ao STF não apenas por divergência ideológica, mas por fatos concretos que revelam uso político da AGU”.
Seif listou episódios que, segundo ele, mostram essa postura: acusações de uso da AGU para perseguir jornalistas críticos ao governo; uma “postura restritiva que impactou a proteção de policiais em operações no Rio de Janeiro”; e omissão diante de alertas sobre “fraudes bilionárias contra aposentados do INSS”.
O senador resumiu seu argumento com uma frase dura sobre o papel do Judiciário: “quando a política entra no tribunal, a Justiça sai pela outra porta”.
Contexto político e religioso
Parte da análise pública também citou o fato de que Jorge Messias se declara evangélico, o que poderia aproximá-lo de um eleitorado que, em parte, é mais reservado em relação ao presidente Lula. Seif, porém, afirmou que a identificação religiosa não é escudo: apresentar-se como religioso não exime ninguém de práticas “incompatíveis com o Evangelho”, afirmou o parlamentar.
O episódio põe em confronto sensibilidade religiosa e exigência institucional: para críticos, a escolha de uma figura ligada ao Executivo para a Suprema Corte exige cuidados redobrados quanto à imparcialidade. Para aliados, a indicação representa continuidade de uma articulação política legítima dentro dos limites constitucionais.
Análise à luz da fé e da lei
Do ponto de vista jurídico-institucional, a preocupação de Seif reflete um receio recorrente: que a nomeação de autoridades ligadas diretamente ao Executivo fragilize a percepção de independência do Judiciário. A etapa da sabatina na CCJ e a exigência dos 41 votos funcionam como mecanismos de controle político; o resultado dirá se esse freio será suficiente.
Em perspectiva cristã, a crítica de Seif invoca um princípio bíblico frequentemente citado em debates públicos: a necessidade de justiça e imparcialidade. Como lembra a Escritura em trechos como “fazer justiça, amar a misericórdia e andar humildemente com Deus” (Miquéias 6:8), há expectativa de que quem ocupa cargos de poder atue com retidão e sem favorecimentos partidários.
O que vem a seguir
Nos próximos passos, além da sabatina na CCJ, o foco estará nos cálculos políticos em torno dos 41 votos necessários no Senado. A narrativa montada por críticos como Seif tende a ganhar eco entre parlamentares que valorizam a independência do STF; por outro lado, o apoio do PT e de aliados pode garantir a aprovação caso se mantenham os alinhamentos políticos.
Em termos práticos, há três efeitos potenciais imediatos: primeiro, um debate público mais intenso sobre a neutralidade de quem ocupa a Suprema Corte; segundo, maior atenção de setores evangélicos à conduta institucional de figuras religiosas na vida pública; terceiro, risco de polarização adicional entre Poderes, caso a votação seja muito apertada e acompanhada de fortes campanhas midiáticas.
Independentemente da conclusão do processo, a discussão destaca uma necessidade clara para o país: que os critérios de escolha e avaliação de ministros do STF privilegiem imparcialidade, independência e compromisso com a lei, valores que tanto a Constituição quanto a fé cristã, em suas principais mensagens, colocam como centrais.
Enquanto o Senado se prepara para a sabatina, a sociedade acompanha e questiona: será que a indicação vai reforçar a confiança no sistema judicial ou aprofundar dúvidas sobre a instrumentalização política da Justiça? Para muitos cristãos e cidadãos, essa pergunta consolida um imperativo — que a busca por poder seja sempre submetida à ética e à verdade.

