Pedro Castillo condenado a 11 anos por tentativa de golpe no Peru: sentença agrava crise política e preocupa comunidade internacional

Pedro Castillo condenado a 11 anos por tentativa de golpe; decisão amplia sequência de ex-presidentes processados no Peru

Pedro Castillo, ex-presidente do Peru, foi condenado a 11 anos de prisão por tentativa de golpe, numa decisão anunciada na quinta-feira (27) que reacende debates sobre estabilidade democrática no país.

O veredito e as acusações

Castillo estava preso desde 7 de dezembro de 2022, quando foi destituído após anunciar, em cadeia nacional, a dissolução do Congresso e a intenção de governar por decreto. A medida desencadeou uma onda de protestos que deixou cerca de 50 mortos no país.

O ex-presidente de esquerda foi acusado de atuar como coautor do crime de rebelião e de provocar grave perturbação da ordem pública. A promotoria havia solicitado 34 anos de prisão durante a acusação, e a nova sentença de 11 anos define um novo capítulo jurídico e político para o Peru.

Contexto político e institucional

A condenação de Castillo ocorre em meio a uma sequência incomum de processos contra ex-presidentes peruanos. Alejandro Toledo e Ollanta Humala cumprem pena por casos de corrupção, e Martín Vizcarra recebeu uma condenação na quarta-feira (26), também por corrupção. Esse acúmulo de sentenças alimenta a percepção de crise institucional e alimenta debates sobre impunidade, responsabilização e polarização política.

Após a queda de Castillo, a vice-presidente Dina Boluarte assumiu o comando do país; ela permaneceu no cargo até outubro deste ano, quando foi destituída por “incapacidade moral”. O cenário mostra um ciclo de instabilidade em que governos têm vida curta e a relação entre Executivo e Legislativo é marcada por choques constantes.

Trajetória de Castillo

Pedro Castillo, 56 anos, vinha de um perfil atípico na política nacional. Professor rural e dirigente sindical, ganhou projeção nacional em 2017 ao liderar uma greve de quase três meses por melhores salários para professores do sistema público. Quatro anos depois, capitalizou o desgaste com a política tradicional e venceu a eleição presidencial.

Durante a campanha, prometeu medidas radicais, como desativar o Tribunal Constitucional e convocar uma nova Assembleia Constituinte. Com o tempo, moderou o discurso em público, mas manteve propostas de ruptura. No campo dos costumes, adotou posições conservadoras, rejeitando a legalização do aborto e criticando abordagens de gênero na educação.

Originário de Puña, na província andina de Chota, Castillo manteve uma ligação forte com comunidades rurais — chegou a votar a cavalo na região de Cajamarca antes de assumir a presidência. Seu governo foi marcado por confrontos frequentes com o Congresso, que tentou derrubá-lo três vezes por “incapacidade moral”, enquanto o Ministério Público o investigava por suspeita de corrupção.

Análise e possíveis repercussões

A condenação de Castillo tem efeitos múltiplos. No plano interno, solidifica um processo de responsabilização criminal de um ex-chefe de Estado por atos ligados ao uso de forças executivas contra o Legislativo. Mas também suscita riscos: há o potencial de novas mobilizações populares e aprofundamento da polarização, especialmente em regiões rurais que apoiaram Castillo.

No plano regional e internacional, a decisão será acompanhada por governos e organizações que observam o respeito a garantias processuais e o equilíbrio entre justiça e estabilidade. Para muitos peruanos, as sucessivas sentenças a líderes do passado tornam urgente a reflexão sobre reformas institucionais que reduzam rupturas e aumentem a confiança pública.

Importa destacar que a justiça penal, sozinha, não resolve o quadro de desigualdades e tensões sociais que alimentaram o surgimento de figuras como Castillo. Sem avanços em inclusão, educação e diálogo político, o país corre o risco de repetir ciclos de crise.

Uma reflexão com perspectiva cristã

Como comunidade de fé, é legítimo pedir justiça e também paz. A tradição cristã nos lembra de buscar concórdia e cuidados com os mais vulneráveis. Em Mateus 5:9, lemos: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”. Essa lembrança não é um pedido de impunidade, mas um chamado à construção de caminhos que promovam reconciliação e respeito às instituições.

O Peru enfrenta agora o desafio de conciliar justiça com reconstrução da confiança coletiva. A sociedade precisa de respostas que vão além das sentenças: reformas políticas, diálogo nacional e atenção às periferias do país são passos essenciais para evitar novas rupturas.

Enquanto a decisão transita pelos canais legais e possivelmente por recursos, resta à sociedade peruana, aos atores políticos e à comunidade internacional acompanhar os desdobramentos com atenção, exigindo transparência no processo e empenho em reformar as estruturas que permitiram repetidas crises.

Nos próximos dias, é esperado que a defesa de Castillo se manifeste e avalie recursos cabíveis. Observadores nacionais e estrangeiros seguirão atentos ao impacto da sentença sobre a estabilidade social e sobre futuras eleições e coalizões políticas no Peru.

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