Paranaense transforma projeto escolar em startup e desafia multinacionais com tecnologia de aplicação de gás carbônico nas sementes: +4,3 sacas/ha, 12 estados, patente em 130 países

João Américo, 25, fundou a Dioxid em Londrina e diz que método com CO₂ já atende quase 200 produtores e foi patentado nos Estados Unidos

Um jovem paranaense desafia gigantes do agronegócio ao levar para o campo uma solução nascida numa feira de ciências: uma tecnologia de aplicação de gás carbônico que altera a atmosfera dentro das embalagens de sementes e promete extrair mais do potencial genético da soja e do feijão. A história desperta admiração, mas também levanta dúvidas sobre como pequenas startups podem enfrentar multinacionais consolidadas e qual o impacto dessa inovação para produtores, mercado e para quem lê os sinais dos tempos à luz da fé.

O que é a tecnologia e quais são os resultados comprovados

A tecnologia de aplicação de gás carbônico desenvolvida pela Dioxid atua dentro das “bags” de armazenamento das sementes, onde a atmosfera interna é alterada para elevar a concentração de gás carbônico (CO₂). A aplicação é feita por difusores monitorados por sensores, que controlam o processo e provocam uma mudança fisiológica na semente, estimulando o enraizamento e extraindo seu potencial genético.

Segundo a própria empresa, o resultado é um ganho médio de produtividade de 4,3 sacas por hectare, com aumentos de até 12% na performance em campo. A solução já é aplicada em 12 estados brasileiros e atende quase 200 produtores, segundo levantamento da equipe.

Da feira de ciências à startup: trajetória e recursos

A ideia começou na escola. Nas palavras do próprio fundador, “Quando eu comecei a desenvolver o projeto de feira de ciências, o que eu buscava naquele momento era ganhar nota e passar de ano”. O projeto cresceu, rendeu mais de 30 prêmios no Brasil e no exterior e, em 2018, João fez a transição da pesquisa acadêmica para o mundo empresarial.

“Fui convidado pela Sociedade Rural do Paraná a transformar aquela pesquisa em uma startup. Mas, para que essa transformação da pesquisa para startup acontecesse, foi preciso me transformar enquanto fundador”, conta Barboza. Com o apoio dos pais, ele estruturou o negócio, atraiu mais de R$ 1 milhão em investimentos e conseguiu clientes em todas as regiões do país.

Barboza lembra ainda do período de aceleração: “Fizemos parte do programa de aceleração da Cyklo Agritech. Nele, recebemos um aporte para realizarmos os testes e os protocolos de validação da nossa tecnologia e com isso angariamos os primeiros clientes e expandimos a empresa”.

Validação do mercado e percepção dos produtores

Produtores que testaram a tecnologia reportam surpresa e gradual confiança. Como diz Guiverson Bueno, produtor rural: “Sou um cara que gosta muito de tecnologia e inovação, e quando o João chegou com a tecnologia dele, achei um trem totalmente diferente. No começo parecia que não tinha sentido, mas o João tem um conhecimento técnico tão grande que, quando ele começou a explicar, fiquei mais confiante em tentar.”

Do lado dos investidores, a avaliação técnica também foi favorável. A sócia da GR8 Ventures, Fernanda Gottardi, enfatiza: “A tecnologia da Dioxid traz um aumento importante na produtividade agrícola de culturas como soja e milho. Em soja, por exemplo, a aplicação na semente pode trazer até 12% de aumento de produtividade. Esse incremento é muito importante em um setor tradicionalmente de margens baixas, em que o produtor é tomador de custos e não formador de preços”.

Escala, patentes e relações com grandes players

A Dioxid já tomou passos ambiciosos: além de ter patenteado nos Estados Unidos a técnica inicial, a empresa afirma ter patenteado sua tecnologia de aplicação de CO₂ em 130 países, com prioridade para o mercado norte-americano. Para o jovem CEO, a postura em relação às multinacionais é pragmática: não são concorrentes diretos, mas “parceiros estratégicos”.

A visão de Barboza é de colaboração e integração: para crescer de forma contínua, uma startup de base tecnológica precisa estar próxima dos grandes players do setor, combinando inovação ágil com capacidade de escala e distribuição que só empresas consolidadas possuem.

Contexto nacional, implicações políticas e leitura cristã

Num país onde o agronegócio é peça central da economia e da geopolítica, tecnologias que aumentam produtividade têm efeito direto sobre renda do produtor, custos e até decisões políticas sobre exportação e incentivos. A entrada de startups como a Dioxid no jogo traz um componente de renovação tecnológica, mas também exige regulação, protocolos de segurança e validação científica continuada para garantir benefícios reais aos agricultores e à sustentabilidade.

Como jornalistas cristãos, não ignoramos a dimensão espiritual e ética desses avanços. A história de João lembra versículos que valorizam a diligência e o ofício bem-feito: “Tudo o que te vier a mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças” (Eclesiastes 9:10) e a imagem do trabalhador fiel em Provérbios — sinais de que talento e perseverança, quando colocados a serviço do próximo, geram frutos palpáveis.

Mas há também desafios éticos: transparência no uso de patentes, impacto socioeconômico sobre pequenos produtores e a necessidade de diálogo público sobre tecnologia no campo. A fé convida a equilibrar entusiasmo pela inovação com responsabilidade social e atenção aos que ficam à margem das transformações.

O que observar a seguir

Fique atento a três pontos nos próximos meses: a efetiva adoção da tecnologia em novas culturas e regiões, os resultados independentes de ensaios em campo que comprovem os ganhos médios apresentados e as parcerias que a Dioxid estabelecerá com grandes empresas do setor. Se a promessa de ganho médio de produtividade de 4,3 sacas por hectare e de até 12% de aumento em soja se confirmar em larga escala, o impacto econômico será relevante para centenas de produtores.

Para leitores cristãos que acompanham atualidades, política e sinais dos tempos, a história de João Américo é ao mesmo tempo um motivo de esperança e um chamado à vigilância: celebrar a capacidade humana de inovar, mas também cobrar responsabilidade ética, cuidado com o próximo e transparência. O futuro do agro é tecnológico — e cabe à sociedade inteira, incluindo igrejas e lideranças comunitárias, participar da conversa para que a inovação sirva ao bem comum.

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