Marcos Tavares: ídolo, evangelista e o impacto de uma mensagem em um país secularizado
Como um atacante brasileiro se tornou porta-voz do evangelho em um dos países mais secularizados da Europa? A pergunta assusta e surpreende: em uma nação que saiu do comunismo e onde a prática religiosa foi desencorajada por décadas, um jogador decidiu usar a visibilidade do futebol para declarar publicamente sua fé e plantar uma igreja. O resultado mudou Maribor e lançou um desafio para a missão cristã contemporânea.
Da periferia de Porto Alegre ao altar em Maribor
Marcos Tavares saiu da periferia de Porto Alegre e, após passagens por clubes como Internacional e Grêmio, passou por Malásia e Chipre até assinar com o NK Maribor, na Eslovênia. Em suas próprias palavras: “Minha infância foi muito difícil, mas eu sabia que era só um momento temporário, que Deus tinha coisas melhores para nossa vida.” A história pessoal — da falta de cama e de comida à carreira bem-sucedida — se tornou testemunho público quando ele revelou sua fé.
No clube, Tavares construiu uma trajetória extraordinária. Ele relata: “Eu sou o maior artilheiro da história do país. Sou o atacante que mais fez gols no campeonato esloveno. Fiz o gol mais rápido do campeonato — oito segundos. Sou o maior artilheiro das fases de classificação da Champions League na Europa. Das dezesseis vezes que o Maribor foi campeão, eu ganhei nove. Duas vezes jogamos a Champions League, e eu fiz gols importantes para classificarmos. Por isso eles fizeram aquela homenagem.”
O reconhecimento público teve tom simbólico: “No meu último jogo, eles colocaram meu nome na tribuna — ‘Tribuna Marcos Tavares’.” Para ele, tudo é obra da graça: “Deus mudou minha vida.”
Evangelismo em uma nação “não alcançada”
A Eslovênia é considerada, por especialistas em missões, uma sociedade com baixa penetração evangélica. “De acordo com o Joshua Project, menos de 1% da população se identifica como evangélica”, afirma o levantamento citado por Tavares. Em muitas regiões do país não há sequer igrejas evangélicas estruturadas.
Foi nesse contexto que Tavares reagiu ao chamado que atribui a Deus: após um período de oração no monte Calvário atrás do estádio — onde subia diariamente mais de 500 degraus — ele diz ter ouvido: “Você vai ficar na Eslovênia. Não porque você é bom e talentoso, mas porque Eu quero.” A reação prática foi simples e direta: após marcar gols, ele levantava a camisa e mostrava a mensagem “Jesus é o Caminho”, escrita em suas camisetas ou nas comemorações, traduzindo a instrução que atribui a Deus: “Toda vez que fizer um gol, escreva João 14:6”.
O gesto se espalhou: a torcida chegou a criar faixas e a frase acabou dando nome à igreja que ele fundou no país, “Jezus Je Pot” (Jesus é o Caminho), e dezenas de eslovenos foram batizados e alcançados por esse ministério.
Impacto social, desconfiança inicial e integração cultural
Ao chegar, Tavares foi o primeiro brasileiro a jogar no país. Ele recorda que, como estrangeiro e negro, enfrentou estranhamento: “Foi difícil no começo. Para eles, era tudo novo.” No campo, porém, os gols e a postura transformaram a percepção pública. A frase “Jesus é o Caminho” saiu dos gestos e se tornou parte do vocabulário da torcida — até em tom de humor, como a faixa que dizia: “Jack Daniels não é o caminho, mas Tavares é o caminho”.
Além da evidência esportiva, Tavares passou a promover encontros, cultos e ações sociais. Hoje, como assistente do diretor de esportes do NK Maribor, ele mantém presença pública e pastoral, combinando legado esportivo e compromisso espiritual.
Lições bíblicas e aplicações para a igreja brasileira
O caso cria interseções claras com a Escritura. A mensagem que ele disseminou remete a João 14:6, onde Jesus diz: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Para muitos, esse é um lembrete de que o testemunho pessoal, acompanhado de evidência pública, pode abrir portas até em contextos aparentemente refratários.
Para igrejas e missionários no Brasil, há ao menos três reflexões práticas: primeiro, o valor do testemunho consistente e visível em espaços públicos; segundo, a importância de contextualizar a mensagem sem abrir mão da clareza doutrinária; terceiro, a necessidade de preparação e envio de líderes que saibam dialogar culturalmente, como fez Tavares ao transformar a popularidade esportiva em oportunidade missionária.
Como ele mesmo colocou, após sua conversão: “Eu levei muita gente para a perdição, pro caminho errado. Mas a partir de hoje, todo mundo que eu encontrar, eu vou levar pro Senhor.” Essa convicção pessoal foi traduzida em ações concretas e organizadas.
Contexto geopolítico e simbologia do esporte
O fenômeno também tem dimensões políticas e sociais. A Eslovênia, pequena e europeia, vive um processo de secularização que se acentuou após o regime comunista. Num cenário assim, o futebol funcionou como canal de comunicação poderoso: o atleta não apenas entretém, mas modela percepções. A história de Tavares lembra que influenciadores públicos podem se tornar instrumentos de evangelização onde estruturas tradicionais não alcançam.
Para o público brasileiro, acostumado a ver atletas como celebridades, a narrativa de Tavares reforça a noção de que visibilidade traz responsabilidade. A atuação dele demonstra como carisma pessoal, competência técnica e fidelidade espiritual podem combinar para gerar impacto duradouro em contextos missionais inesperados.
Ao falar sobre seu sonho, Tavares disse: “O meu maior sonho é que, nesse estádio, em vez de falarem ‘Marcos Tavares’, falem ‘Jesus é o Caminho’. O meu sonho é fazer uma cruzada aqui na Eslovênia, e ver dez mil pessoas gritando o nome de Jesus Cristo, entregando a vida pra Ele.” Esse objetivo revela não só ambição espiritual, mas um plano de mobilização semelhante ao de movimentos missionários globais.
Em resumo, a trajetória de Marcos Tavares é uma combinação rara de sucesso esportivo e ousadia evangelística em terreno pouco cultivado. Para igrejas brasileiras que buscam estratégias de missão, o caso confirma que pessoas comuns, em posições públicas, podem abrir portas onde instituições formais encontram resistência. E reafirma, por meio do esporte, que a mensagem de Jesus pode encontrar caminhos onde menos se espera.

