Integrantes do PT e partidos de esquerda vão à China para aprofundar a cooperação com o Partido Comunista — viagem oficial entre 30 de outubro e 7 de novembro
Preocupação e surpresa: uma delegação brasileira de partidos de esquerda desembarcou na China para estudar a formação ideológica do Partido Comunista Chinês (PCCh) e reforçar laços políticos, gerando dúvidas entre cristãos e conservadores sobre os limites entre cooperação internacional e alinhamento ideológico.
A missão ocorreu entre 30 de outubro e 7 de novembro e reuniu integrantes do PT, PCdoB, PSOL, PDT e PSB. Viagem feita a convite do Departamento Internacional do Comitê Central do PCCh, o grupo visitou Guangzhou, Hefei e Pequim para conhecer instituições que o PCCh define como centrais ao “socialismo com características chinesas”.
O que aconteceu
Segundo a página oficial do PT, a viagem “marcou novo capítulo nas relações entre os partidos”, com foco no “fortalecimento da ação institucional” e no “desenvolvimento soberano”.
Na legenda do presidente Luiz Inacio Lula da Silva, o PT foi representado por Tássia Rabelo, secretária nacional de Formação e Educação Política e diretora da Escola Nacional de Formação, Claudinha Lima, secretária nacional de Nucleação, e Luiza Dulci, vereadora de Belo Horizonte.
Em dez dias de agenda, a delegação visitou a Escola Central do PCCh — descrita pela comitiva como o principal centro de doutrinação política do país — a Universidade Agrícola de Anhuí, estatais e empresas como BYD e Gotion High‑Tech. O grupo teve ainda um encontro com membros do Departamento Internacional do Comitê Central do PCCh e participou de um jantar oferecido pelo vice‑ministro Ma Hui, que, segundo o PT, ressaltou a importância do Brasil no fortalecimento das forças progressistas do chamado Sul Global.
Análise política e de fé
Há elementos práticos e simbólicos nessa missão. Do ponto de vista prático, partidos e escolas de formação trocam experiências sobre organização partidária, estratégias de educação política e cooperação internacional. Do ponto de vista simbólico, porém, a visita a centros de formação do PCCh acende alertas entre cristãos que acompanham política: a familiaridade com um modelo onde o Estado e o partido estruturam fortemente a formação ideológica pode colidir com valores de liberdade religiosa e pluralidade de pensamento.
O próprio PT publicou uma síntese do aprendizado: “Para o PCCh, a formação política é o coração da estratégia socialista. Ela possibilita a continuidade, disciplina e consciência coletiva, valores que sustentam a ideia de desenvolvimento como projeto civilizatório”. Em outro trecho reproduzido pela legenda, afirma‑se que “A formação política, o planejamento estatal e a soberania nacional são dimensões inseparáveis de um mesmo projeto de transformação social”, disse Tássia Rabello.
Essas afirmações mostram claramente a ênfase chinesa na formação política como instrumento de coesão social. Para líderes cristãos preocupados com a liberdade de consciência, o desafio é distinguir estudo e cooperação internacional de adoção acrítica de práticas que possam limitar liberdades civis.
Contexto para o Brasil
No cenário brasileiro, a missão ocorre em meio a debates acalorados sobre educação, instituições e soberania. Para parte do eleitorado, aprofundar relações com a China significa estreitar laços comerciais e diplomáticos; para outros, representa risco ideológico, especialmente quando a agenda inclui visitas a centros de doutrinação e empresas estatais.
É crucial também notar que o encontro foi formal, institucional, e ocorreu a convite do Departamento Internacional do Comitê Central do PCCh, o que indica que a intenção oficial é a troca de experiências entre partidos. Ainda assim, o impacto político interno deverá ser debatido nas próximas semanas, em especial por correntes que enxergam na forma de formação política chinesa um modelo de controle centralizado.
Reflexão à luz da fé
Como jornalistas cristãos, não caímos em alarmismo, mas também não ignoramos sinais relevantes. A Bíblia lembra da importância de vigilância e sabedoria em tempos de mudança: “Vigiai e orai” (Mateus 26:41) nos chama a discernir com oração e estudo. Em outra passagem, o apóstolo Paulo exorta a testar tudo à luz da verdade: “Examinai todas as coisas; retende o que é bom” (1 Tessalonicenses 5:21), orientação útil para avaliar práticas de formação política estrangeira antes de adotá‑las.
Para cristãos engajados na esfera pública, a questão prática é acompanhar atentamente os desdobramentos destas conversas, exigir transparência sobre acordos e garantir que qualquer cooperação respeite a liberdade religiosa, a pluralidade de pensamento e a independência das instituições brasileiras.
Ao final, a delegação retorna com relatos e impressões que, segundo a própria comitiva, devem alimentar “fortalecimento da ação institucional” e promoção do “desenvolvimento soberano”. Resta à sociedade brasileira, e em especial às comunidades de fé, acompanhar com espírito crítico, oração e participação ativa no debate público.

