Incêndio em Hong Kong: buscas acharam corpos em escadarias e telhados; prefeitura havia informado risco baixo em 2024
O incêndio que atingiu o conjunto de arranha-céus Wang Fuk Court, em Tai Po, transformou-se no episódio mais letal da história recente de Hong Kong e levanta dúvidas sobre segurança em reformas e fiscalização. O número de mortos subiu para 156 e as autoridades já somam 15 pessoas detidas por suspeita de ligação com o caso.
O que aconteceu
O fogo começou em 26 de novembro e, pelas dimensões e pela intensidade das chamas, levou cerca de 48 horas para ser declarado controlado, segundo o governo. O Departamento de Bombeiros recebeu o chamado às 3h51 no horário de Brasília (14h51 no horário local) e mobilizou centenas de agentes; posteriormente o alerta foi elevado ao nível 5, o mais alto da escala.
As equipes de busca já concluíram vasculhas em cinco dos sete prédios de 31 andares atingidos e, durante a varredura, encontraram corpos em escadarias e em telhados — vítimas que ficaram presas ao tentar escapar da fumaça e das chamas. As duas torres restantes, as mais danificadas, ainda serão examinadas e a operação pode levar semanas.
Falhas apontadas e investigação
O chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, anunciou a criação de um comitê independente, liderado por um juiz, para apurar as causas do incêndio e as reformas em curso nos prédios, que já são apontadas como fatores que facilitaram a propagação do fogo.
Autoridades informaram que testes realizados em amostras da tela verde usada para cobrir andaimes demonstraram que o material não atendia aos padrões de retardamento de fogo. Também foram citadas como combustíveis a espuma isolante usada para cobrir janelas e falhas nos alarmes de incêndio do complexo.
O Departamento do Trabalho revelou que moradores haviam reclamado em 2024 sobre riscos trazidos pelas reformas, e que a prefeitura, na ocasião, comunicou que o risco de incêndio era relativamente baixo. Investigações preliminares sugerem que empreiteiros usaram materiais fora do padrão e os colocaram em áreas de difícil acesso, o que teria, na prática, dificultado inspeções.
Impacto social e respostas
O conjunto afetado abriga cerca de 2 mil apartamentos e, conforme censo de 2021, aproximadamente 4,6 mil moradores. Milhares de pessoas prestaram homenagens com flores, cartões e tributos; entre as vítimas há trabalhadores domésticos estrangeiros — nove da Indonésia e uma das Filipinas.
As doações oficiais para os sobreviventes chegaram a 900 milhões de dólares de Hong Kong (cerca de R$ 618 milhões) até segunda-feira. A polícia já isolou e depois liberou quarteirões próximos, e o trânsito local foi afetado com o fechamento de trechos da rodovia Tai Po e desvio de linhas de ônibus.
Ao todo, 15 pessoas foram detidas até o momento, com duas prisões anunciadas pelo governo no dia mais recente das atualizações. As autoridades mantêm investigação criminal paralela às apurações técnicas.
O episódio reacende memórias de outros incêndios graves na cidade: em 1996, uma reforma provocou um incêndio que matou 41 pessoas e levou a mudanças nas normas de segurança contra incêndios em edifícios altos. O uso de andaimes de bambu, ainda comum em Hong Kong, vem sendo questionado após vários acidentes e incêndios nos últimos anos.
Análise leve e lições a tirar
Além do luto, o caso coloca em foco o equilíbrio entre velocidade de obras, custo e segurança. Materiais inadequados, obstrução de áreas de inspeção e sistemas de alarme deficientes formam uma combinação de risco que se manifesta com consequências trágicas quando um princípio de incêndio ocorre.
Para moradores e gestores de prédios, a lição imediata é reforçar inspeções independentes, exigir conformidade com normas e garantir que rotas de fuga e alarmes sejam testados frequentemente. No plano público, a criação do comitê independente é um passo esperado para recuperar confiança e estabelecer responsabilidades.
O papel das comunidades também aparece: vizinhos, grupos religiosos e organizações civis têm mobilizado apoio aos atingidos e pressionado por respostas rápidas e transparentes das autoridades.
Como ponto de referência moral e de consolo, muitos têm buscado palavras de fé diante da dor. Uma passagem frequentemente citada é do Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mateus 5:4), lembrando a importância de solidariedade prática junto ao conforto espiritual.
A investigação vai envolver perícias técnicas sobre materiais de construção, a sequência do incêndio e responsabilidades de empreiteiros e órgãos públicos. Com torres ainda por vasculhar, a contagem final de vítimas e a plena compreensão do que ocorreu só deverão ser concluídas nas próximas semanas.
Enquanto isso, Hong Kong e observadores internacionais acompanham as apurações, e familiares seguem em busca de respostas e apoio para reconstruir vidas abaladas pela tragédia.

