Haddad nega rompimento do Congresso com o governo: ‘estremecimento momentâneo’ após Motta e Alcolumbre ausentes na sanção da isenção do IR até R$5 mil

Haddad nega rompimento do Congresso com o governo e classifica tensão como temporária

Há sinais claros de tensão entre o Planalto e o Congresso que podem preocupar quem acompanha a vida pública com olhar prudente: dois dos principais presidentes das Casas, Hugo Motta e Davi Alcolumbre, não participaram da cerimônia em que o presidente Lula sancionou a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, num gesto que expõe um ambiente político mais conturbado do que a imagem de normalidade sugerida pelo governo.

Depois do choque, contudo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, procurou reduzir o tom e afirmou que não há um rompimento entre o Executivo e o Legislativo: segundo ele, trata-se apenas de um “estremecimento momentâneo”. Em entrevista à GloboNews, Haddad disse: “Essas coisas acontecem. Se você recuperar o passado recente, desde o começo do governo, às vezes dá um estremecimento momentâneo em virtude de alguma disputa, alguma expectativa frustrada. O que é natural, mas eu tenho confiança de que isso passa”.

O que motivou a crise

O atrito se aprofundou nas últimas semanas por duas decisões que irritaram parte do Congresso. Primeiro, a crítica do Planalto à escolha do deputado Guilherme Derrite (PP-SP) como relator do projeto de combate às facções criminosas, de autoria do Ministério da Justiça, na Câmara. Segundo, a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal, gesto que desagradou o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que preferia o antecessor Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e disse que não foi oficialmente informado da escolha.

Desde então, Motta e Alcolumbre romperam relações com os líderes do governo nas duas casas — Lindbergh Farias (PT-RJ), na Câmara, e Jaques Wagner (PT-BA), no Senado — e não compareceram à cerimônia de sanção da isenção do IR, amplificando a percepção de desgaste institucional.

Reação do governo e argumentos constitucionais

Haddad, que tem atuado como articulador do governo junto ao Congresso, minimizou o efeito das ausências e afirmou ter confiança na continuidade das pautas econômicas: ele defendeu, ainda, a prerrogativa presidencial na escolha de indicações para o STF. Sobre Messias, Haddad declarou: “É natural que um presidente da República indique a pessoa que vai ser sabatinada. […] É um candidato natural pelo domínio que tem dos assuntos de Estado, o Messias tem sido extremamente diligente com as questões relativas ao Estado brasileiro em relação às questões fiscais, mantém com os 11 ministros do Supremo uma relação excepcional”.

Na mesma cerimônia, o presidente Lula também elogiou o trabalho dos parlamentares e afirmou: “Cumprimentar os deputados e senadores que tiveram a sensibilidade de fazer com que o país pudesse continuar acreditando na politica, na democracia, de que é possível a gente viver democraticamente na diversidade”. Apesar das ausências, o governo tenta transmitir que há diálogo e que as divergências são administráveis.

Implicações políticas e olhar cristão

Do ponto de vista prático, um “estremecimento momentâneo” pode se traduzir em dificuldades pontuais na aprovação de medidas, especialmente as que demandam coesão legislativa, como reformas econômicas ou nomeações sensíveis. Para o público que lê os acontecimentos à luz da fé, há duas leituras relevantes: primeiro, a busca por unidade e prudência na condução dos assuntos públicos, que lembra o chamado bíblico à ambição pela paz e pela unidade (por exemplo, Romanos 12:18 — “se possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos”); segundo, a necessidade de discernimento diante de rivalidades e expectativas frustradas, tema presente em passagens que alertam contra o orgulho e a divisão.

Essas referências não justificam neutralidade ou silêncio, mas pedem que a análise política mantenha critérios de justiça, verdade e responsabilidade, sem cair em pânico nem em romantização dos atores envolvidos.

O que observar nos próximos dias

Fique atento a três pontos que definem se a crise seguirá sendo um “estremecimento” ou se se transformará em racha duradouro: a) a continuidade do diálogo formal entre o Executivo e as lideranças do Congresso; b) a tramitação de projetos econômicos prioritários e a disposição dos líderes em negociar; c) o desdobramento das reações à indicação de Jorge Messias para o STF e ao relatório sobre o combate às facções, com o relator Guilherme Derrite no centro das atenções.

Em suma, embora a cena política tenha registrado um momento de forte simbolismo — a ausência de Motta e Alcolumbre na sanção do benefício do IR até R$ 5 mil —, o governo, por meio de Haddad, reitera que não há ruptura formal. A avaliação pública, especialmente da comunidade cristã preocupada com a estabilidade e a ética na política, pede vigilância, oração e ação informada, buscando sempre a defesa da democracia e do bem comum diante de tempos de tensão.

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