Neurologista alega ataques e exposição de dados pessoais após publicação republicada por Gustavo Gayer; petição no STF acusa difamação e orquestração
Uma queixa-crime protocolada no Supremo Tribunal Federal (STF) acendeu nova controvérsia entre política, redes sociais e segurança pessoal. Na petição, protocolada na última quarta-feira (26), uma médica neurologista acusa o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) de difamação e de ter sido catalisador de ataques online que teriam evoluído para doxxing.
O que aconteceu
A sequência começou com uma publicação da neurologista na qual ela ironizou o assassinato do ativista americano Charlie Kirk, afirmando: ‘Um ativista americano foi morto hoje durante um evento ao ar livre em uma universidade dos EUA. A ironia? Ele tava (sic) sob uma tenda com os dizeres ‘prove me worng’ [prove que eu estou errado]. Pois é, provaram.’
Outro usuário compartilhou a postagem e acrescentou a interpretação de que ‘boa parte da esquerda é formada por psicopatas’, junto com um print do perfil da médica — nome completo e indicação de neurologista.
O deputado Gustavo Gayer encontrou essa republicação e fez um comentário: ‘Mais uma extremista que celebra assassinatos de quem pensa diferente.’ Segundo a defesa da médica, a partir desse repost ela passou a receber ataques massivos e coordenação de exposição de dados.
O teor da queixa-crime
Na petição apresentada ao STF, a neurologista descreve como, após a publicação do parlamentar, começaram a circular prints que divulgavam dados pessoais sensíveis: nome completo, profissão, cidade, contatos telefônicos, números de CRM, endereço da clínica e até CPF. A peça afirma que ‘esse tipo de divulgação caracteriza um doxxing clássico — exposição calculada de dados pessoais com o objetivo de intimidar, fragilizar e possibilitar represálias concretas no mundo offline.’
Entre as mensagens anexadas à defesa estão ameaças como ‘fica esperta na rua’ e ‘presta bastante atenção quanto estiver saído de casa (sic.)’. A petição sustenta que, ao relacionar a médica a ‘uma conduta moralmente reprovável e socialmente odiosa, ligada à celebração de crime contra a vida’, Gayer teria orquestrado os supostos ataques.
Contexto público e reações
O episódio acontece em meio à repercussão internacional do assassinato de Charlie Kirk, baleado por um estudante durante um evento na University of Utah. Kirk, líder conservador de 31 anos, era alvo de fortes críticas e já havia provocado mobilizações contrárias entre estudantes.
Após o ataque, houve publicações de apoiadores e críticos nas redes sociais que celebraram ou ironizaram a morte. Entre os posicionamentos que ganharam destaque estão o do jornalista Eduardo Bueno (‘Peninha’), que afirmou que a morte teria sido ‘boa para suas filhas’ e depois publicou retratação; o do médico Ricardo Barbosa, cujo comentário levou à revogação de seu visto americano; e o da influenciadora Juliana Rosa, que chamou o episódio de ‘muito bonita e poética’.
Segundo a reportagem, a Gazeta do Povo entrou em contato com Gustavo Gayer e aguarda retorno.
Análise breve
O caso expõe tensões que já são recorrentes: a fronteira entre liberdade de expressão, responsabilização por discursos públicos e a escalada de violência virtual que culmina em ameaças concretas. Políticos com grande alcance podem, mesmo sem intenção direta, amplificar conteúdos que facilitem perseguição ou exposição indevida de terceiros.
Do ponto de vista jurídico, a queixa-crime no STF busca responsabilizar o parlamentar por difamação e por estimular uma sequência de violações de privacidade. Em paralelo, o relato de divulgação de CRM, CPF e endereço configura risco real à segurança da profissional e pode ensejar medidas civis e penais contra autores do doxxing.
Para a sociedade, fica a pergunta sobre as regras de moderação e a necessidade de práticas digitais responsáveis: repassar um print ou comentário sem contextualizar pode ter consequências fora da tela.
Uma nota de fé e prudência: a tradição cristã lembra a orientação a amar o próximo (Marcos 12:31) e a proteger os vulneráveis; isso inclui evitar julgamentos públicos que possam expor alguém a perigo real.
O episódio também vai testar instituições: como o STF receberá a queixa e quais limites processuais serão reconhecidos quando o debate público encontra a linha que separa crítica de incitação e de exposição ilegal?
Enquanto a tramitação da queixa-crime não se desenvolve publicamente, a defesa da médica tenta documentar, com prints e registros, a sequência de ataques e ameaças. A movimentação mostra, de forma concreta, como eventos trágicos e polarização política podem gerar ramificações jurídicas e de segurança pessoal no Brasil.
Por ora, as principais medidas a acompanhar são a manifestação formal de Gustavo Gayer, o andamento da peça no STF e eventuais ações contra os autores diretos do doxxing. A responsabilização depende de provar o nexo entre o repost do deputado e a campanha de exposição e ameaças — é esse ponto que estará no centro da disputa jurídica.
Reportaremos atualizações assim que houver respostas oficiais ou novos documentos públicos relacionados ao caso.

