Entenda o que está acontecendo com a greve dos caminhoneiros, os pedidos da UBC, as críticas de Abrava e CNTTL e o cenário nas rodovias segundo a PRF
A possível greve dos caminhoneiros, articulada por parte da categoria a partir desta quinta-feira, 4, ganhou novos capítulos, com posições divergentes entre entidades e monitoramento das estradas sem registros de interrupções. O movimento é puxado pela UBC, União Brasileira dos Caminhoneiros, enquanto associações como Abrava e CNTTL afirmam que não vão aderir.
Segundo a PRF, Polícia Rodoviária Federal, o Distrito Federal e o Entorno amanheceram sem bloqueios, interdições, manifestações ou aglomerações nas rodovias federais até as 8h desta quinta. A dimensão real da mobilização ainda é incerta, já que entidades da categoria divergem sobre a adesão e o propósito da paralisação.
O que está confirmado até agora
De acordo com o InfoMoney, a UBC estima que cerca de 20% dos caminhoneiros devem participar da mobilização inicial. O representante da entidade, Francisco Burgardt, o Chicão Caminhoneiro, disse que a convocação é nacional e voltada aos autônomos. “É um movimento nacional para os cerca de 1,2 milhão de caminhoneiros autônomos do país. Acreditamos que haverá grande adesão, mas cada pessoa é livre para decidir se quer participar. Fizemos todo o embasamento legal para que o movimento seja legítimo”, afirmou em entrevista ao Broadcast Agro, na quarta-feira, 3.
No início da manhã, a PRF informou que o Distrito Federal e o Entorno amanheceram sem bloqueios, o que indica que, até as primeiras horas do dia, a greve dos caminhoneiros ainda não havia provocado impactos nas estradas federais da região.
O que pedem os caminhoneiros
Na terça-feira, 3, a União Brasileira dos Caminhoneiros protocolou na Presidência da República um documento com 18 reivindicações caso a greve dos caminhoneiros ocorra. Entre os pontos citados, a entidade pede medidas para regularizar a situação de motoristas autônomos que participaram de mobilizações anteriores. A UBC solicita uma resposta formal às reivindicações até quinta-feira, antes da possível paralisação nacional.
Os líderes do movimento defendem que a pauta é de caráter setorial, com foco no transporte e nas condições de trabalho dos autônomos, e afirmam ter preparado embasamento jurídico para dar legitimidade à iniciativa.
Política e anistia em debate
O representante da UBC nega vínculo político da greve dos caminhoneiros com a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro ou com pedidos amplos de anistia. Conforme o InfoMoney, Chicão afirmou: “A anistia que estava na petição era relacionada a processos que sofremos sanções em greves anteriores, como eu que ainda possuo contas bloqueadas”. Ele acrescentou: “Nós não podemos misturar as coisas, com movimento político. Estamos falando somente da questão de transporte”.
Entre as entidades contrárias à paralisação, a Abrava, presidida por Wallace Landim, o Chorão, ressalta que não lidera manifestações com fins partidários. “A pauta da anistia será chamada em meio a essa mobilização. Não é justo levantarmos uma pauta dessa, porque é uma pauta política, de fato”, disse. Chorão alertou ainda: “Existe de fato um movimento velado para induzir transportador a parar o País por outra pauta, trazer os caminhoneiros a entrar na manifestação e depois ampliar a pauta para tom político. Não apoiamos isso e orientamos que os caminhoneiros não adiram para não serem prejudicados”.
Na mesma linha, a CNTTL, Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística, pela voz do diretor Carlos Litti, refutou uma paralisação com viés político. “Não apoiaremos, pois se trata de uma pauta política por anistia. Há pautas setoriais justas apresentadas, mas no meio um pedido de anistia para crimes cometidos nos últimos dez anos, o que é um absurdo”.
Santa Catarina e movimentos regionais
Em Santa Catarina, tradicional reduto do bolsonarismo, representantes do setor avaliam que as chances de adesão são baixas. O presidente da Associação Catarinense dos Transportadores Rodoviários de Carga, Janderson Maçaneiro, o Patrola, afirmou que a possível greve dos caminhoneiros não seguiu o rito formal. “Os sindicatos fazem assembleias, as assembleias constroem pautas, as pautas constituem atas e as atas vão para federação estadual, e a federação encaminha para a confederação nacional, que aí protocola uma greve nacional. Isso não aconteceu”.
Em nota ao ND Mais, a Fetrancesc declarou que respeita o direito à livre manifestação, mas pontuou que uma eventual paralisação não seria positiva neste momento. Nos bastidores, conforme apuração da repórter Vivian Leal, do ND Mais, os indicativos de paralisação no estado são mínimos, especialmente porque grande parte dos motoristas contratados por empresas catarinenses tem vínculo empregatício, enquanto a mobilização é liderada por autônomos.
As entidades reconhecem que líderes mais radicais podem organizar ações localizadas, algo condicionado a preferências políticas e contextos regionais. A categoria teve forte engajamento na eleição de 2018, e houve tentativa de mobilização pró-Bolsonaro em julho, no recesso parlamentar, que não prosperou. Por ora, a avaliação predominante é que a greve dos caminhoneiros ainda enfrenta resistência de parte significativa do setor organizado.
Com a UBC mantendo o chamado e a PRF monitorando as rodovias, o cenário continuará a ser acompanhado ao longo do dia, com atenção a possíveis pontos de concentração e a eventuais adesões. Até o momento, as principais entidades patronais e de trabalhadores organizados mantêm a orientação de não aderir à paralisação, enquanto a UBC sustenta que cada motorista é livre para decidir sua participação.

