Indicação de Messias mobiliza liberação de emendas, tensão com Davi Alcolumbre e risco de resistência no centrão
Uma manobra financeira do Planalto acendeu alerta político no Senado. Desde a indicação do advogado‑geral da União, Jorge Messias, para a vaga no Supremo Tribunal Federal, o governo liberou R$ 807 milhões em emendas parlamentares para fortalecer a costura de apoio.
O que está em jogo
A estratégia do Executivo busca reduzir resistências e conquistar votos tanto na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) quanto no Plenário. Na CCJ, Messias figura com 12 senadores favoráveis e 12 contrários — faltando, segundo levantamento do Poder360, três votos entre os 27 membros para obter a maioria simples necessária na sabatina.
No Plenário, a barra é mais alta: são necessários 41 dos 81 senadores para aprovar a indicação. O governo, conforme apuração do portal Metrópoles, priorizou o pagamento de emendas de bancada e de comissões para melhorar o relacionamento com líderes e relutores cuja adesão é estratégica.
Distribuição das emendas e transparência
De acordo com as reportagens, as bancadas do Amapá — estado do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União‑AP) — e do Maranhão — base do relator Weverton Rocha (PDT) — ficaram entre as maiores beneficiadas. Juntas, essas bancadas receberam 22,9% dos R$ 807 milhões liberados desde a indicação.
Essas emendas, quando assinadas “em conjunto” por deputados e senadores do estado, ou definidas por comissões temáticas, tornam difícil precisar a autoria e o destino final dos recursos. Mais de 80% das emendas liberadas não deixam clara a autoria da rubrica,</b segundo o levantamento citado — o que alimenta críticas sobre transparência e uso político de recursos públicos.
Reações e resistências
A indicação de Messias também provocou atritos com Davi Alcolumbre, que havia defendido a vaga para o senador Rodrigo Pacheco (PSD‑MG). Após o anúncio, Alcolumbre anunciou pautas‑bomba e rompeu com o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT‑BA), além de acelerar o rito de sabatina — marcada para 10 de dezembro, apenas 20 dias após a indicação do presidente Lula.
Parte da oposição e segmentos do centrão mantêm reservas à nomeação de Messias. Uma das razões apontadas por senadores é a eventual predisposição do indicado em questões que interessam ao Parlamento, como o tratamento das emendas. O ex‑senador e atual ministro do STF Flávio Dino já manifestou críticas a tipos de emendas cujos pagamentos foram questionados por sua opacidade.
Outro foco de atenção é a própria formalidade: até o momento, Lula não teria enviado a comunicação oficial da indicação ao Senado, segundo as fontes. A pressa no cronograma e a liberação de recursos foram interpretadas por alguns líderes como tentativa de acelerar ou construir maior margem de apoio antes da tramitação decisiva.
Politicamente, a movimentação revela uma aposta do Executivo em instrumentos orçamentários para influenciar votações sensíveis. A operação pode surtir efeito em votos pontuais, mas também eleva a tensão entre Poderes e aprofunda desconfianças sobre critérios de distribuição de recursos.
Para além dos números, há custo reputacional: o uso intensivo de emendas em torno de uma indicação ao STF alimenta narrativas de clientelismo e enfraquece discursos sobre independência institucional — pontos que o próprio Supremo tem enfrentado em debates públicos.
Analistas políticos ressaltam que o resultado final dependerá não apenas das emendas, mas de negociações locais, do posicionamento de líderes e de decisões individuais de senadores que pesam entre responsabilidade institucional e pressões eleitorais e orçamentárias.
Em termos práticos, se Messias não conseguir os três votos faltantes na CCJ, sua sabatina perde fôlego; se não alcançar 41 votos no Plenário, a indicação será rejeitada, obrigando o Executivo a rever sua estratégia.
Como reflexão para cidadãos e cristãos que acompanham o episódio: a Bíblia orienta sobre transparência e integridade nas lideranças. “O que é reto agrada ao Senhor, mas os caminhos tortuosos são repugnantes para ele” (Provérbios 11:20, paráfrase para o contexto). A lembrança bíblica convida a valorizar processos públicos claros e responsáveis.
Em meio à pressão política, resta saber se a liberação de R$ 807 milhões será suficiente para converter indecisos ou se provocará reação pública e institucional que complica a votação. O desfecho definirá não só a composição do STF, mas também o pacto fiscal e político do Executivo com o Senado nas próximas semanas.
O cenário segue volátil: o calendário da sabatina está marcado, as articulações seguem, e a contagem de votos será observada com atenção por setores do Judiciário, do Congresso e da sociedade civil.

