Glauber Braga desafia a Mesa Diretora e causa interrupção da sessão na Câmara
Conflito e apreensão marcaram a manhã no plenário: o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) ocupou a cadeira do presidente da Câmara e se recusou a sair, motivando a intervenção da Polícia Legislativa e o esvaziamento da sessão.
O que aconteceu
Segundo relatos e imagens divulgadas nas redes sociais, Glauber Braga sentou na cadeira de Hugo Motta (Republicanos-PB) durante discursos parlamentares e declarou: “Eu aqui ficarei até o limite das minhas forças”.
A Polícia Legislativa foi chamada, esvaziou o plenário e retirou o parlamentar à força. A TV Câmara interrompeu a transmissão da sessão, a imprensa foi impedida de permanecer para registrar os acontecimentos e o acesso ao Salão Verde foi temporariamente restrito pela segurança da Casa.
Reações dentro da Câmara
O presidente da Casa, Hugo Motta, anunciou que a possível cassação de Glauber será analisada pelo plenário. Lindbergh Farias (PT), líder do partido na Câmara, tentou convencer o deputado a encerrar o protesto e disse que buscaria uma saída política rápida com a liderança do governo: “Isso não é bom para a Casa”, afirmou Lindbergh, lembrando episódios anteriores de ocupação.
Do outro lado, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) criticou a atitude de Glauber, acusando-o de agir por motivos pessoais e recordando que a oposição já havia ocupado a Mesa em outra ocasião para pautar um projeto de anistia. Nikolas declarou: “Ele está ali por causa dele. Nós estávamos ali pela anistia, uma pauta maior do que nós mesmos e de forma pacífica. Isso mostra a individualidade e o egoísmo dele, de parar a Casa toda por causa dele, que está sendo processado por cassação por ter agredido uma pessoa aqui dentro. Imagina se sou eu? Eu já estaria cassado há muito tempo.”
Contexto e antecedentes disciplinares
O episódio ocorre em meio a um processo disciplinar já em curso. Em abril, o Conselho de Ética da Câmara recomendou ao plenário a cassação do mandato de Glauber Braga por quebra de decoro parlamentar.
O relatório do Conselho foi aprovado por 13 votos a favor da cassação e 5 contra. A motivação envolve condutas anteriores: no ano passado, o deputado expulsou um militante do Movimento Brasil Livre (MBL) de dentro da Câmara usando chutes e empurrões, fato que motivou a abertura do processo no Conselho.
Na sessão desta terça, a votação ainda não havia sido aberta quando se iniciou a ocupação da Mesa, segundo parlamentares presentes.
Impacto imediato e institucional
A ação levou ao esvaziamento do plenário e à interrupção da atividade legislativa programada para o período. Além do constrangimento institucional, a retirada forçada de um parlamentar e a restrição de acesso à imprensa suscitam preocupações sobre transparência e uso da força dentro da própria Casa Legislativa.
O episódio coloca a Câmara em situação delicada diante da opinião pública, sobretudo em um momento em que o Conselho de Ética já havia recomendado a perda do mandato. A decisão agora cabe ao plenário, que terá de avaliar formalmente o pedido de cassação.
Parlamentares de diferentes bancadas demonstraram preocupação com a reação em cadeia que ocupações e intervenções podem causar, pedindo critérios claros para preservação da ordem e do debate político sem recorrer à violência.
Análise leve
Politicamente, a ocupação da Mesa por um deputado sob risco de cassação intensifica a polarização e pressiona colegas a tomar posição. A tática de ocupação é vista por alguns como forma de protesto legítimo; por outros, como um ato que prejudica a rotina institucional e a imagem da Casa.
Em termos práticos, o episódio pode acelerar a tramitação do processo disciplinar, ao mesmo tempo em que reforça narrativas de vítima e acusador entre aliados e adversários. A interrupção das votações e a falta de registros jornalísticos completos — decorrentes do corte de transmissão e da saída da imprensa — também podem dificultar a formação de um consenso público sobre os fatos.
Do ponto de vista cristão e cívico, a situação exige equilíbrio: a defesa de convicções é legítima, mas a prática institucional pede que a disputa ocorra com respeito e transparência.
Uma referência breve e direta encontra eco nas Escrituras: Romanos 12:18 — “Se for possível, quanto depender de vós, tende paz com todos”. A passagem não elimina conflitos, mas lembra que a busca pela convivência e pela justiça deve procurar caminhos que preservem o bem comum.
Nas próximas horas, o plenário deverá definir como tratará a recomendação do Conselho de Ética e o episódio do dia, com possível votação sobre a cassação ou encaminhamentos processuais adicionais. A decisão será acompanhada de perto por partidos, pela mídia e por observadores interessados na preservação das normas parlamentares.
O registro público e o respeito às regras internas da Câmara serão determinantes para que situações como essa não se repitam e para que o Legislativo recupere a normalidade dos trabalhos sem prejuízo ao direito de manifestação nem ao decoro parlamentar.

