O governo dos Estados Unidos anunciou uma proposta que pode obrigar turistas de 42 países — entre eles Alemanha, França, Reino Unido e Japão — a entregar o histórico de redes sociais dos últimos cinco anos para obter entrada pelo programa ESTA.
O que diz a proposta
O texto, publicado no Federal Register pela Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP), prevê que viajantes hoje isentos de visto tenham de informar às autoridades uma série de dados adicionais. Além do histórico de redes sociais por cinco anos, a proposta cita a lista dos números de telefone usados nos últimos cinco anos e endereços de e‑mail dos últimos dez anos.
Também poderão ser exigidos nomes, endereços, datas e locais de nascimento de familiares diretos (pais, cônjuges, irmãos e filhos) e telefones desses parentes dos últimos cinco anos. A administração avisa que inconsistências nessas informações podem ser motivo para negar a entrada.
Atualmente, o ESTA custa US$ 40 e a autorização vale por dois anos. Desde 2016, incluir perfis de redes sociais na inscrição era opcional; a mudança tornaria essa exigência a regra para os países do programa.
Contexto e justificativas
Segundo o documento do Departamento de Segurança Interna, a proposta amplia medidas de triagem e vigilância para identificar riscos à segurança. A publicação abre um período de revisão pública de 60 dias, quando cidadãos, empresas e entidades podem enviar comentários, críticas e sugestões.
Medidas semelhantes já vinham sendo aplicadas a requerentes de visto de países fora do ESTA — como o Brasil — que, desde junho, passaram a expor histórico de redes sociais em pedidos de visto.
Recentemente, o Departamento de Estado também orientou consulados a negar vistos a pessoas que tenham trabalhado com moderação de conteúdo, checagem de fatos ou segurança digital, em uma iniciativa criticada por restringir profissões ligadas à liberdade de expressão. O memorando descreveu tais funções como práticas de “censura” e “supressão da livre expressão”.
Possíveis impactos práticos
Especialistas e ativistas de privacidade alertam para o alcance e o custo prático da medida. Reunir histórico completo de contas, telefones e e‑mails pode ser complexo e custoso, especialmente para pessoas que viajaram ou mudaram de contato várias vezes.
Há também risco de dissabores diplomáticos: a exigência afeta países aliados que compõem a lista do ESTA e pode ampliar a percepção de ambientes menos receptivos a visitantes. O setor de turismo americano já enfrenta queda. Segundo o World Travel & Tourism Council (WTTC), os gastos de visitantes internacionais devem cair de US$ 181 bilhões em 2024 para menos de US$ 169 bilhões em 2025 — uma perda estimada em US$ 12,5 bilhões.
Casos de turistas detidos por semanas e alertas de viagem emitidos por governos estrangeiros, como a atualização recente da Alemanha, agravaram a imagem do país junto a visitantes.
Ao mesmo tempo, os EUA se preparam para eventos que devem gerar grande fluxo turístico, como a Copa do Mundo de 2026 (sediada em parte nos EUA) e os Jogos Olímpicos de 2028 em Los Angeles. Organizadores e viajantes poderão ter de lidar com requisitos adicionais em momento de alta demanda.
O período de comentário de 60 dias será a janela para ajustes: países afetados, empresas do setor e grupos de direitos digitais terão oportunidade de tentar mitigar impactos ou pedir clarificações.
Para o viajante comum, a recomendação imediata é acompanhar anúncios oficiais, consolidar documentos de contato e revisar perfis online. Informações inconsistentes com históricos declarados podem complicar entrada e visto.
Do ponto de vista legal, a medida está dentro do escopo de políticas de imigração e segurança; na prática, seu alcance dependerá de como os consulados e oficiais de fronteira aplicarão as novas regras.
Uma breve reflexão: em tempos de maior vigilância, há um apelo bíblico à dignidade e à verdade nas relações. Como lembra Gálatas 6:2, carregar com o outro faz parte de uma convivência justa — e isso inclui proteger a privacidade de viajantes sem negligenciar a segurança pública.
Os próximos passos são administrativos: após o período de 60 dias, o Congresso não precisa aprovar diretamente a regra, mas o texto pode ser ajustado antes de entrar em vigor. Enquanto isso, igrejas, organizações humanitárias e famílias que planejam viagens longas devem se preparar para possíveis exigências extras.
Fontes oficiais e grupos afetados já anunciam monitoramento atento; para cidadãos brasileiros, mesmo não incluídos na lista do ESTA, a alteração reforça a tendência global de maior escrutínio sobre histórico digital em pedidos de entrada e vistos.

