Pesquisa americana destaca retorno social e modelo descentralizado da Embrapa como chave para a revolução agrícola brasileira
Um dado chama atenção e preocupa: a ciência pública que multiplicou riqueza enfrenta hoje corte de recursos.
O que a pesquisa mostra
Um estudo recente, assinado por instituições americanas de referência, entre elas o MIT e o BID, aponta resultados claros sobre a atuação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Segundo o trabalho publicado este mês, a cada R$ 1 investido na Embrapa a sociedade brasileira recebeu R$ 17 em benefícios. Esse retorno está associado a um aumento de produtividade agrícola de 110%, resultado das tecnologias desenvolvidas pela empresa ao longo de décadas.
Por que a abordagem funcionou
Os autores destacam que o diferencial foi o modelo descentralizado da Embrapa. Em vez de concentrar pesquisa em um único polo, a instituição criou 43 centros espalhados por regiões distintas do País.
Essa distribuição permitiu desenvolver soluções adaptadas às realidades locais e evitar a chamada “armadilha do desajuste tecnológico” — quando uma tecnologia simplesmente não se adequa às condições climáticas, de solo ou às práticas locais.
O estudo também explica que as inovações favoreceram um crescimento vertical da produção: produzir mais na mesma área, sem pressionar novas fronteiras agrícolas.
Tecnologias e impactos práticos
Na prática, avanços como o plantio direto e a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) aumentaram rendimentos de culturas como soja, milho e feijão e tornaram os sistemas mais resilientes a eventos climáticos.
Essas tecnologias, quando calibradas para cada bioma e realidade rural, contribuíram para ganhos de produtividade que se refletem tanto na segurança alimentar quanto nas exportações.
Contexto histórico e situação atual
A Embrapa foi criada em 1973, em um contexto de necessidade de reduzir a dependência de importações de alimentos e de responder ao rápido crescimento populacional e à urbanização.
A missão inicial foi desenvolver ciência e tecnologia próprias, formar pesquisadores e estruturar centros regionais para atender demandas locais — uma aposta que, segundo o estudo, rendeu dividendos econômicos e sociais elevados.
No entanto, o relatório e fontes sindicais apontam uma contradição dura: nos últimos dez anos os repasses federais à pesquisa na Embrapa caíram 80%, segundo o sindicato da categoria (Sinpaf). Para 2026, a previsão orçamentária é de R$ 270 milhões, valor considerado insuficiente frente ao retorno identificado.
Há, portanto, um contraste entre o impacto comprovado da pesquisa e a retração de recursos públicos.
Análise breve
Do ponto de vista econômico, o número R$ 17 por R$ 1 é um argumento potente para justificar investimento público em ciência aplicada. Em termos sociais, a manutenção de tecnologias adaptadas evita riscos como perda de produtividade, aumento de preços de alimentos e vulnerabilidade climática.
Politicamente, a descoberta reforça a importância de políticas de longo prazo para pesquisa agropecuária, que não podem ser tratadas como gastos de curto prazo, mas como investimento estratégico.
Conexão e responsabilidade
Como lembra a Bíblia, “a quem muito foi dado, muito será exigido” (Lc 12:48). Essa visão breve reforça uma responsabilidade coletiva: reconhecer resultados e cuidar dos recursos que tornam esses ganhos possíveis.
Preservar instituições de pesquisa como a Embrapa é também zelar pelo bem comum — segurança alimentar, renda rural e sustentabilidade ambiental.
O estudo americano não apenas celebra um sucesso técnico e econômico; ele coloca uma pergunta urgente ao debate público no Brasil: se R$ 1 vira R$ 17, por que reduzir o investimento que gera esse retorno? A resposta afetará o futuro da agricultura, do meio ambiente e da soberania alimentar brasileira.

