Chanceler da Alemanha em Belém: relato de “alívio” ao deixar COP30 expõe miséria, gasto de quase R$1 bilhão, reação política e lição cristã

Chanceler da Alemanha em Belém gerou polêmica: “Ninguém quis ficar” — dados, citações e a visão cristã sobre a ‘aldeia Potemkin’ e o desafio da verdade

Não atirem no mensageiro: a reação de um chanceler estrangeiro após a COP30 acendeu um debate que mistura geopolítica, política interna e consciência social. A sensação de “alívio” relatada ao deixar Belém virou estopim para acusações de preconceito, defesa governista e acusações de espetáculo eleitoral. Antes de partir para as trincheiras, é preciso olhar os dados e as palavras com calma.

O episódio e as reações

O episódio começou a ganhar contornos públicos quando a manchete afirmou: “Chanceler da Alemanha relata alívio ao deixar Belém após a COP 30: “Ninguém quis ficar””. Para a oposição, a fala demonstra mais um capítulo do que classificam como o fiasco do evento da COP30: “Lula gastou quase um bilhão e até a ONU reclamou a organização e da infraestrutura”. No campo governista, a reação foi de revolta: setores da esquerda acusaram o chanceler de preconceito e exigiram desculpas.

Entre os que comentaram com dados, a economista Renata Barreto sintetizou a crítica factual em palavras duras: “Infelizmente, Belém tem 57% da população vivendo em favelas e menos de 20% tem acesso à tratamento de esgoto. A capital do Pará está entre as piores capitais do Brasil em termos de infraestrutura urbana. O primeiro passo em direção à resolução de um problema é assumir que ele existe. Não adianta varrer pra debaixo do tapete e ter aquela atitude bem brasileira de fingir que não tem nada acontecendo“.

Dados, fachada e a ideia da “aldeia Potemkin”

Quando se fala em “aldeia Potemkin” a referência é a construções ou cenários que escondem uma realidade mais dura: fachada para impressionar visitantes. O termo vem das história(s) sobre Grigório Potemkin, relacionadas a um espetáculo montado para impressionar a imperatriz Catarina, a Grande, e desde então entrou no discurso político para criticar encenações que maquiam problemas institucionais.

No caso de Belém e da COP30, críticos dizem que houve esforço de embelezamento e logística para a imagem internacional, enquanto índices básicos de infraestrutura seguem problemáticos. Outros defendem que avaliações externas e comentários ásperos sobre o local refletem intolerância ou desrespeito cultural. Entre fatos e sentimentos, a questão central é prática: o que será feito agora para sanar carências históricas?

Uma leitura cristã e o chamado à verdade e à ação

Como jornalista cristão observo duas urgências. A primeira é ética: não transformar o diagnóstico em linchamento de quem aponta problemas. A expressão popular “Não atirem no mensageiro” serve como alerta para que a reação emocional não impeça a correção necessária. A segunda é pastoral: a fé pede que não ignoremos o sofrimento revelado pelos números e pelas imagens. Mateus 25, na passagem em que Jesus fala do cuidado com o próximo, lembra que o critério do juízo passa pelo olhar para os mais frágeis. Essa não é uma pregação, mas uma bússola moral para interpretar o escândalo humano por trás da manchete.

Política, mídia e sociedade civil precisam responder com políticas públicas de saneamento, habitação e gestão transparente. A crítica externa — mesmo grosseira ou mal colocada — pode servir de catalisador para debates que realmente melhorem vida das pessoas. Rejeitar a crítica por princípio equivale a manter o problema escondido.

O que vem a seguir

No curto prazo, esperaremos respostas institucionais sobre os custos e a organização da COP30, bem como planos concretos para a infraestrutura de Belém. No âmbito social e eclesial, há espaço para iniciativas de auxílio e advocacy: igrejas e organizações cristãs podem ser ponte entre comunidades e gestores públicos, enquanto cobram transparência e investimentos.

O desafio é não transformar a vergonha em silêncio e nem a crítica em humilhação. Precisamos de diagnóstico claro e de coragem política para agir. Como lembra a tradição bíblica, falar a verdade com amor é caminho para cura e restauração — algo que a cidade de Belém e seus habitantes merecem, independentemente de quem a visite ou da cor do emoji nas redes sociais.

Conclusão: em vez de atirar no mensageiro ou encobrir a realidade com retórica, a resposta madura exige reconhecimento dos dados, debate público responsável e ação concreta. Só assim a crítica externa e as dores expostas pela COP30 poderão se transformar em políticas que promovam justiça social e dignidade humana.

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