Ministra do STF afirma que ditadura corrói a Constituição; fala no Rio ocorre em meio a prisões ligadas ao processo sobre tentativa de golpe
Alerta e tensão marcaram a fala da ministra do Supremo Tribunal Federal Cármen Lúcia em um evento literário no Rio de Janeiro, neste sábado (29). Em poucas palavras, ela associou a ameaça autoritária a algo que cresce se não for removido.
O comentário e as citações
<pCármen Lúcia afirmou, textualmente, que "a primeira vítima de qualquer ditadura é a Constituição” e acrescentou que “a erva daninha da ditadura, quando não é cuidada e retirada, toma conta do ambiente.”
Ao responder por que julgar uma tentativa de golpe, disse: “Outro dia alguém me perguntava por que julgar uma tentativa de golpe, se foi apenas tentativa. Meu filho, se tivessem dado golpe, eu estava na prisão, não poderia nem estar aqui julgando.”
Ainda comentou sobre o material probatório do processo: “estava documentado em palavras a tentativa de ‘neutralizar’ alguns ministros do Supremo”, trazendo ao público trechos e interpretações que sustentaram o julgamento.
Contexto processual e prisões
A declaração ocorreu enquanto o país repercute a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), do general Augusto Heleno e de outros condenados na ação penal nº 2668 (núcleo 1). Segundo relatos, Bolsonaro já estava preso antes do STF decretar o trânsito em julgado do processo.
O ministro Alexandre de Moraes entendeu haver risco de fuga depois que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) convocou uma vigília e após notícia de que o ex-presidente teria tentado abrir a tornozeleira eletrônica com um ferro de solda. Com esse quadro, a prisão preventiva de Bolsonaro mudou do regime domiciliar para o regime fechado.
Fontes noticiaram que a oposição qualifica as medidas como “perseguição religiosa” e anunciou intenção de denunciar Alexandre de Moraes às embaixadas em Brasília. O ex-presidente permanece na Superintendência da Polícia Federal em Brasília; as últimas visitas a ele, registradas, ocorreram na quinta-feira e foram de Jair Renan (filho) e de Michelle Bolsonaro (esposa).
Análise breve e possíveis reflexos
O posicionamento público de uma ministra do STF em evento cultural reacende o debate sobre o papel de magistrados em espaços públicos e sobre os limites entre o jurídico e o político. Cármen Lúcia reconheceu que “este não é um espaço próprio exclusivamente de debates da esfera política formal, oficial do Estado”, mas manteve ênfase no conteúdo do julgamento que atingiu a esfera federal.
Para analistas jurídicos, a fala reforça a percepção institucional de que proteger a Constituição é objetivo central dos tribunais em situações de risco à ordem democrática. Para atores políticos, porém, gera críticas sobre exposição e eventual politização de ministros.
No plano institucional, a ministra integra a Primeira Turma do STF e é uma das três indicações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje a turma tem quatro integrantes; o único não indicado por Lula é Alexandre de Moraes, nomeado quando Michel Temer era presidente. Caso o advogado‑geral da União, Jorge Messias, seja aprovado, a composição do colegiado ficará majoritariamente formada por ministros indicados por Lula, o que tem sido objeto de observação e debate público.
Uma leitura de fé
Do ponto de vista cristão, a dificuldade em preservar instituições remete a uma pergunta ética e comunitária. Salmos 11:3 expressa a inquietação diante da perda de bases: “Quando os fundamentos são destruídos, que fará o justo?” A referência é curta e busca lembrar que a defesa da lei e da ordem democrática tem eco também na reflexão moral e na responsabilidade coletiva.
O que muda agora é a percepção pública e o enquadramento político das ações judiciais e das penas aplicadas: decisões que atingem figuras públicas elevam o nível de polarização e exigem transparência para manter a confiança institucional.
Em um país com memória de golpes e rupturas, a metáfora usada por Cármen Lúcia — da “erva daninha” — é convocação para vigilância institucional e cidadã. Resta observar como os atores políticos reagirão nas próximas semanas, e como o Supremo e outras instituições vão administrar o equilíbrio entre segurança, processo legal e a percepção pública de imparcialidade.
Em essência, a fala reforça a tensão atual entre garantias constitucionais, segurança pública e a polarização política que segue moldando o calendário nacional.

