Senadores evangélicos citam ADPF 1141 e atuação da AGU; Messias busca diálogo com líderes religiosos e senadores
Conflito e incerteza marcam a indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal, com parte da bancada evangélica preocupada com risco de ativismo judicial e outra parte reservada, disposta a considerar o fato de o indicado ser evangélico.
O ponto de atrito
Parlamentares contrários à indicação apontam a participação da Advocacia‑Geral da União (AGU) na ADPF 1141 como um teste de valores. O deputado Eli Borges (PL‑TO) enviou à imprensa o parecer da AGU no processo e disse que, diante daquele posicionamento, “Depois da posição dele, reflui. Um cristão defende a vida”.
O argumento ganhou espaço nos bastidores do Senado e reforça a desconfiança sobre como Messias se posicionaria em pautas de costumes no STF.
Quem se manifesta e por quê
Vozes públicas do grupo que tende ao voto contrário incluem o senador Jorge Seif (PL‑SC), que citou “alinhamento ideológico e instrumentalização da AGU” e criticou decisões e pareceres da AGU, além de apontar suposta seletividade: “AGU tem atuado com seletividade, sendo célere contra críticos do governo e leniente quando as suspeitas envolvem o próprio núcleo do poder”.
O senador Magno Malta (PL‑ES) enfatiza histórico funcional e episódios públicos que, para ele, mostram falta de independência. A senadora Damares Alves (Republicanos‑DF) afirmou que Messias “não é conhecido do segmento evangélico” e que conversas entre eles, embora amistosas, não garantem apoio.
O presidente da bancada evangélica no Senado, Carlos Viana (Podemos‑MG), pediu a convocação de Messias na CPMI do INSS e chegou a afirmar: “Se ele não se explicar bem, quiçá até sair preso. Ele tem responsabilidade por não cumprir seu papel à frente da AGU”. A CPMI incluiu o pedido de convocação na pauta, e o tema deve ser votado pelo colegiado.
O que diz a AGU e o Planalto
A AGU respondeu que Messias “vai procurar todos os senadores e senadoras, incluindo os da bancada evangélica, e se colocará à disposição para esclarecer todas as dúvidas e prestar todos os esclarecimentos necessários relativos à sua indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF)”.
Sobre as denúncias de omissão em fraudes contra aposentados, o órgão afirmou que só incluiu as entidades no primeiro pedido de bloqueio após a apresentação de indícios concretos pela Controladoria‑Geral da União (CGU) e pela Polícia Federal (PF), e que já obteve decisões de bloqueio que somam R$ 2,8 bilhões.
No Planalto, a orientação é evitar que a disputa se transforme em um confronto simbólico com a bancada evangélica. Assessores buscam conversas discretas com lideranças e apontam que decisões da AGU refletem papel institucional, não preferências pessoais — ainda que reconheçam que a ADPF 1141 será o ponto mais sensível na sabatina marcada para 10 de dezembro na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Análise breve
O quadro mostra uma bancada dividida: há parlamentares dispostos a votar a favor, mas relutantes em se expor antes da sabatina. A estratégia do governo é desgastar a articulação contrária, apostando na falta de coesão entre evangélicos. No entanto, para muitos senadores, a indicação só se estabilizará se Messias demonstrar independência efetiva do Executivo e afastar receios de partidarização da Corte.
Se a sabatina se transformar no palco para discutir pautas de costumes — aborto, liberdade religiosa e ativismo judicial — o resultado dependerá não só de julgamentos técnicos, mas de percepções políticas e religiosas em torno do perfil do indicado.
Conexão bíblica breve: a tensão entre autoridade e responsabilidade lembra o apelo bíblico à justiça e à integridade (Isaías 1:17), que orienta cristãos a buscar decisões públicas alinhadas com a defesa do próximo.
O que vem pela frente: Messias intensificou visitas a senadores, manteve reunião com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) — classificada pela entidade como “visita de cortesia” em que “foram abordados diversos temas ligados ao atual contexto religioso, socioambiental, político e cultural do país” — e tenta acalmar resistências antes da fase de sabatina na CCJ e da votação em plenário.
Em resumo, a indicação de Jorge Messias ao STF entra na reta final com a bancada evangélica dividida, a pressão do Planalto por negociações discretas e o agendamento da sabatina para 10 de dezembro como momento decisivo para medir apoio ou resistência.

