Por que o futuro da ASEAN importa ao Brasil: influência chinesa, novas purgas autoritárias e riscos à liberdade religiosa
Algo está em jogo no Sudeste Asiático e as perguntas são diretas: até que ponto os países que formam a ASEAN ainda conseguem decidir seu próprio caminho diante da pressão dos grandes poderes e do avanço de modelos autoritários? Essa dúvida não é distante do Brasil — mudanças na região afetam cadeias de suprimentos, preços de commodities e o quadro geopolítico que molda alianças globais.
Nos últimos anos a ASEAN, bloco que reúne dez países do Sudeste Asiático, tem sido pressionada por uma combinação de fatores: a crescente influência econômica e militar da China, o reposicionamento dos EUA, crises internas como a situação em Myanmar, e o enfraquecimento de normas como a política de não intervenção. Ao mesmo tempo, relatos sobre novas purgas e reconfigurações de poder na própria China alimentam um clima de instabilidade regional que pode favorecer regimes autoritários e limitar espaços de liberdade — inclusive a liberdade religiosa, que preocupa comunidades cristãs locais e observadores internacionais.
O desafio geopolítico
A ASEAN nasceu com a ideia de estabilidade por meio de diálogo e consenso entre seus dez membros: Indonésia, Malásia, Filipinas, Singapura, Tailândia, Vietnã, Laos, Camboja, Mianmar e Brunei. Esse arranjo, porém, foi tensionado por interesses externos e por choques internos. A agenda chinesa no Pacífico com investimentos e disputas territoriais pressiona países que tentam equilibrar laços econômicos com Pequim e garantias de segurança com Washington.
Além disso, processos autoritários dentro da região — seja por golpes militares, repressões a opositores ou restrições à sociedade civil — fragilizam a capacidade da ASEAN de agir coletivamente em defesa de valores e regras. Quando Estados membros se dividem, o bloco perde peso diplomático e fica mais vulnerável a influências externas.
Impacto para o Brasil
Para o Brasil, a crise da ASEAN tem efeitos práticos. O aprofundamento de laços entre países do Sudeste Asiático e potências como a China altera fluxos comerciais e cadeias de valor globais. Commodities brasileiras, investimentos e o preço de matérias-primas podem sofrer volatilidade se rotas comerciais e alianças mudarem.
Há também uma dimensão de política externa: um mundo onde blocos regionais cedem espaço à competição entre grandes potências reduz as margens para países de médio porte articularem posições independentes. Isso influencia negociações multilaterais, fóruns de comércio e alianças que o Brasil históricamente busca preservar para proteger seus interesses econômicos e soberania.
Olhar cristão e implicações para a liberdade religiosa
Como jornalista cristão, vejo dois pontos de atenção imediatos. Primeiro, a consolidação de regimes autoritários tende a aumentar a vigilância sobre comunidades religiosas e organizações civis, gerando riscos de perseguição e restrição de culto. Segundo, a reação internacional — ou sua ausência — afeta comunidades que buscam apoio externo para denunciar abusos.
Na Bíblia encontramos um princípio que ajuda a interpretar esse cenário: Provérbios 29:2 diz que “quando os justos governam, o povo se alegra; mas quando o ímpio domina, o povo geme”. Essa observação nos lembra que estruturas de poder moldam o bem-estar das pessoas e das comunidades de fé. Ao mesmo tempo, o ensinamento de Jesus em Mateus 5:9, “bem-aventurados os pacificadores”, convida cristãos a buscar caminhos de diálogo e reconciliação, sem ignorar a denúncia das injustiças.
Caminhos possíveis para a ASEAN e recomendações práticas
O futuro da ASEAN não está escrito. Entre os cenários plausíveis, podemos imaginar: 1) um fortalecimento do bloco por meio de maior integração econômica e diplomática; 2) uma fragmentação que abre espaço para influência bilateral de potências externas; 3) uma deriva autoritária em parte dos Estados membros; 4) um alinhamento pragmático com a China em troca de investimentos; 5) uma maior cooperação com atores como a União Europeia e o Brasil em temas econômicos e ambientais.
Para o Brasil e para a comunidade cristã interessada no tema, algumas recomendações práticas emergem: manter diálogos diplomáticos amplos com países do Sudeste Asiático; reforçar parcerias comerciais que não dependam de um único ator; apoiar iniciativas de sociedade civil que promovam direitos humanos e liberdade religiosa; e investir em informações confiáveis para acompanhar mudanças rápidas na região.
O destino da ASEAN interessa não só àqueles que vivem na Ásia, mas a países como o Brasil que dependem de um sistema global estável para prosperar. Em tempos de tensão, a fé nos lembra tanto da urgência de agir com sabedoria quanto da responsabilidade de ser voz em favor dos vulneráveis. A vigilância, a oração e a diplomacia informada são ferramentas que a comunidade cristã e o país podem usar para ajudar a preservar espaços de liberdade e de paz no cenário internacional.

