Alejandro Carranza: família e governo colombiano levaram à Corte caso de pescador desaparecido após ataque dos EUA no Caribe
O desaparecimento de Alejandro Carranza reacendeu questionamentos sobre a operação militar dos Estados Unidos no Caribe e abriu caminho para uma petição na Corte Interamericana de Direitos Humanos.
O caso em poucas palavras
Alejandro Carranza, 42 anos, saiu ao mar em 14 de setembro e não voltou. A família afirma que ele pode ter sido vítima de um bombardeio norte-americano anunciado por Donald Trump no dia seguinte, quando o governo dos EUA divulgou que uma embarcação proveniente da Venezuela havia sido atacada e que três tripulantes haviam morrido.
Sem o corpo e com evidências limitadas, a família, representada pelo advogado e ativista Daniel Kovalik, formalizou denúncia na Corte Interamericana contra autoridades dos EUA, citando o secretário de Defesa Pete Hegseth como responsável por ordenar bombardeios. A petição aponta que, desde setembro, ao menos 83 pessoas morreram em ataques promovidos pelos EUA contra embarcações no Caribe e no Pacífico sul, operações que Washington diz visar narcotraficantes.
O que a denúncia diz e o que há de evidência
Segundo o documento compartilhado com a imprensa, em 15 de setembro militares dos EUA teriam bombardeado o barco em que estava Carranza. Kovalik afirma que há um depoimento de testemunha com identificação visual, e que a hora e o tipo de embarcação coincidem com o relato da família. Ainda assim, a própria sobrinha de Carranza admite: “não sabemos se era ele. Não temos provas, além do que vimos nas notícias”.
O presidente colombiano Gustavo Petro apoiou a família e denunciou publicamente que ao menos um ataque dos EUA atingiu cidadãos colombianos. Em reação, Trump suspendeu pagamentos e subsídios à Colômbia e sancionou Petro, alegando vínculos do governo colombiano com o narcotráfico. A tensão diplomática soma-se ao debate sobre soberania e limites do uso da força em águas internacionais.
Contexto regional e argumentos dos EUA
Os Estados Unidos justificam a campanha no mar como necessária para conter a entrada de drogas e proteger vidas americanas. A DEA registra aumento de 18% nas apreensões de cocaína em 2024, segundo dados oficiais citados pela imprensa. Ao mesmo tempo, autoridades americanas destacam que o fentanil é a principal causa de mortes por overdose nos EUA, e que a pressão sobre rotas de tráfico é uma prioridade.
Especialistas, no entanto, alertam que ataques a embarcações podem violar o direito internacional se não houver prova sólida sobre a natureza criminosa da tripulação ou se não forem tomadas medidas para prender e processar suspeitos. Kovalik resumiu a crítica: “isso não dá o direito de realizar execuções extrajudiciais — se acreditam que cometem crimes, deveriam ser presos e julgados”.
Impacto sobre comunidades pesqueiras e resposta da família
Enquanto tramita a denúncia, pescadores em áreas do Caribe relatam medo de sair ao mar, preocupados em ser confundidos com ‘narcolanchas’. A família de Carranza, que vive em Gaira e tem cerca de 20 parentes na mesma casa, diz sofrer não só pela perda, mas também pela exposição de versões conflitantes sobre o passado de Alejandro. Reportagens chegaram a associá-lo a crimes antigos, informação negada pela família.
A petição na Corte Interamericana busca não só responsabilizar autoridades dos EUA, mas incentivar outras famílias a denunciar desaparecimentos relacionados às operações militares. Kovalik declarou esperança de que o caso traga mais transparência e evidências públicas sobre o que ocorreu naquela noite de setembro.
Do ponto de vista humanitário e jurídico, a pergunta central permanece: autoridades que alegam estar combatendo o crime têm meios legais e seguros para identificar e apreender suspeitos em alto-mar sem pôr em risco civis ou violar soberania de outros países?
Uma leitura com fé e justiça
Para muitos leitores cristãos, a busca por respostas e reparação lembra que a proteção da vida e a justiça são valores presentes nas Escrituras. Como registrado em Provérbios 31:8-9, há um chamado a falar em favor dos que não podem se defender — um princípio que inspira familiares a levar o caso a instâncias internacionais.
O processo na Corte Interamericana não tem prazo definido para conclusão. Enquanto isso, a região vive um momento de alta tensão: além dos ataques navais, o presidente Trump anunciou em dezembro a intenção de ampliar ações com “ataques por terra”, o que amplia o medo e a incerteza entre comunidades costeiras.
O caso de Alejandro Carranza coloca perguntas fundamentais sobre direitos humanos, soberania e segurança regional. Mais do que determinar culpa imediata, a petição busca abrir espaço para investigação independente, conduta judicial e reparação, se for comprovada violação. Para a família, a meta é simples e humana: saber o que aconteceu e obter justiça.

