O Ibovespa renovou máximas históricas nesta quinta-feira, encerrando o pregão em 164.455,61 pontos, alta de 1,67%. A leitura curva do mercado mostra que investidores já precificam redução de juros no Brasil e nos Estados Unidos, gerando fluxo comprador e alavancando papéis sensíveis a taxas.
O que aconteceu
O índice chegou a 164.550,77 pontos no pico intradiário, oscilando entre a mínima de 161.759,12 pontos e o novo fechamento recorde. O volume financeiro no pregão somou R$31,1 bilhões.
A alta ocorreu num dia em que o IBGE divulgou que o PIB brasileiro cresceu 0,1% entre julho e setembro ante o trimestre anterior — resultado mais fraco do que a expectativa de mercado de 0,2%. Ainda assim, a combinação de sinais de desaceleração doméstica e a forte chance de cortes de juros no exterior reduziu o prêmio de risco e favoreceu ações.
Por que investidores compraram
O mercado aposta em uma trajetória de queda de juros. Na curva de juros local, as apostas embutiam mais de 80% de probabilidade de o Banco Central reduzir a Selic em 0,25 ponto percentual em janeiro — ante 78% no fechamento de quarta-feira. A pesquisa Focus já vinha apontando Selic a 14,75% em janeiro, contra os atuais 15% ao ano.
No exterior, a ferramenta FedWatch indicava cerca de 87% de chance de corte de 0,25 ponto percentual pelo Federal Reserve na semana seguinte. Essa expectativa reforça o fluxo global em direção a ativos de risco e alivia pressões sobre o câmbio e os juros locais.
Como sintetiza a economista-chefe da InvestSmart XP, Mônica Araújo: “Importante destacar que esse dado em conjunto com outros que mostram alguma desaceleração de demanda doméstica configuram um cenário estrutural que pode permitir que a partir de março de 2026 seja possível iniciar o processo de flexibilização da taxa Selic pelo comitê de política monetária”.
Setores e nomes em foco
O rali favoreceu especialmente bancos e empresas de commodities e consumo. Entre os destaques: Itaú Unibanco PN subiu 2,46%, BRADESCO PN avançou 1,42%, SANTANDER BRASIL UNIT valorizou 1,02%, BANCO DO BRASIL ON ganhou 1,74% e BTG PACTUAL UNIT subiu 1,5% — reflexo da acomodação de juros e do apetite por ações financeiras.
No campo das commodities, VALE ON subiu 1,74% em sua quinta alta seguida, enquanto PETROBRAS PN fechou em alta de 0,65% num dia de alta do petróleo no exterior. Localiza ON teve ganho expressivo de 5,04%, e NATURA ON avançou 3,93%. Em contraste, AMBEV ON recuou 1,41% após leitura fraca de produção de bebidas, segundo o IBGE.
Também chamou atenção o leilão de participações no pré-sal: a estatal e a Shell arremataram duas áreas sem concorrência, movimento que ajuda a explicar parte da alta em ações ligadas ao setor.
Fluxo de capitais e fatores sazonais
Estratégias fiscais e corporativas contribuíram para o movimento. Há reacomodação global de ativos, com saldo de capital externo positivo em cerca de R$27,7 bilhões no ano, e entrada líquida de R$311 milhões nos dois primeiros pregões de dezembro após mais de R$2 bilhões em novembro.
A proximidade da reforma do Imposto de Renda, que entra em vigor no próximo ano, levou empresas a anteciparem anúncios de pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio — outro suporte para o rali de final de ano. Em quatro pregões, o Ibovespa já sobe mais de 3% em dezembro.
O especialista em renda variável da Manchester Investimentos, Rubens Cittadin Neto, resume a combinação que sustenta o mercado: a bolsa ganha força com as apostas de queda de juros nos EUA e a previsão de redução local, enquanto empresas anunciam dividendos maiores para evitar novas regras tributárias.
Risco e avaliação
Mesmo com o otimismo, há sinais de cautela. O desempenho do PIB — fraco ante a expectativa — lembra que o crescimento doméstico ainda padece de inércia, e que cortes de juros podem demorar se a atividade não responder. Setores expostos ao consumo interno e à produção industrial merecem acompanhamento.
Além disso, mudanças na agenda fiscal, volatilidade de commodities e decisões do próprio Banco Central ou do Fed podem ajustar abruptamente as expectativas de mercado.
Num olhar que mistura fé e responsabilidade, a tradição bíblica lembra a importância do equilíbrio entre esperança e prudência: investir exige visão e planejamento. Como referência, provérbios sobre diligência e prudência convidam a ação cuidadosa sem retirar a confiança em horizontes melhores.
Para investidores, o cenário pede atenção à diversificação, ao horizonte de prazo e à leitura das curvas de juros: o Ibovespa pode ganhar mais fôlego se as previsões de cortes se confirmarem, mas permanece sensível a dados econômicos e a riscos externos.
Em suma, o recorde do Ibovespa aponta um mercado mais confortável com a perspectiva de alívio monetário global e doméstico, mas a sustentação da alta dependerá da evolução do ritmo de atividade, da política do BC e do comportamento das entradas de capital estrangeiro.

